A campanha eleitoral começou domingo (27) e a maioria dos candidatos ainda tateia em relação ao que convém ou não fazer neste ano de pandemia e como usar as redes sociais a seu favor. As perguntas se sucedem na cabeça dos candidatos, especialmente daqueles que não têm uma assessoria de marketing preparada para a uma eleição anormal. O que o eleitor aceita e o que rejeita? O que conquista e o que afugenta? Menos é mais? Vale a pena imprimir “santinhos” com a cola?
Assim que percebeu que esta seria uma eleição diferente, a cientista social e política Elis Radmann, diretora do IPO — Instituto Pesquisas de Opinião, passou a incluir em pesquisas questões que ajudam a orientar as campanhas. Uma das constatações é que entre os eleitores de baixa renda a presença do candidato é bem aceita. Conforme a renda sobe, aumenta a rejeição aos encontros presenciais. A parcela do eleitorado que fez quarentena por medo do coronavírus não quer saber de político batendo à sua porta.
— Os eleitores estão cada vez mais seletivos. Querem conhecer as propostas dos candidatos, mas sem ser incomodados — diz a especialista.
O que significa estar mais seletivos? Elis detalhou o conceito em artigo para o site Coletiva.net: “Por eleitores "seletivos", entenda-se: pessoas que recebem uma enxurrada de informação pelo WhatsApp, que são impactados por Fake News e temem golpes pela internet e, portanto, procuram otimizar o seu tempo. Só dão atenção a cards e vídeos que sejam de seu interesse, que tenham um conteúdo que esteja alinhado com as suas preferências, com seus interesses”.
Os primeiros dias da campanha já mostraram que não são poucos os candidatos que fazem uso inadequado das redes. Podem até acertar no conteúdo, mas erram na distribuição, mandando para listas de pessoas a quem não conhecem e que, muitas vezes, nem votam na cidade.
— O porta a porta (ou corpo a corpo) agora será whats a whats, com mensagens personalizadas, que façam sentido para aquela comunidade ou grupo social — ensina Elis.
O eleitor médio se irrita ao encontrar sua caixa de e-mail ou seu WhatsApp repleto de mensagens genéricas de candidatos. A propaganda funciona melhor se a pessoa receber o conteúdo de alguém que ela confia. Significa dizer que os candidatos terão que ter uma rede de influenciadores, promotores ou apoiadores que falem com sua rede de contato, de "whats a whats”.
Se os grupos de família perderam influência, porque as rusgas de 2018 fizeram com que a política fosse proibida para não acirrar as divergências, as comunidades virtuais temáticas têm resultado mais efetivos, segundo a pesquisadora. Faz mais sentido apresentar propostas de mobilidade em um grupo de ciclistas, por exemplo, do que em outro chamado de Orquideoterapia.
O que publicar no Facebook e no Instagram é outra a dúvida recorrente. Como boa parte dos eleitores gosta de “sangue e circo”, Elis recomenda que os candidatos sejam rápidos na resposta a acusações e notícias falsas, porque seus perfis precisam ter as informações corretas assim que um boato começa a circular.
E a cola no dia da eleição? As pesquisas indicam que a maioria dos eleitores não quer receber papel, por medo de se contaminar. O jeito é usar as redes sociais para divulgar o nome, e principalmente, o número, que é o que conta na urna eletrônica.
Aliás
A pandemia mudou também a forma como os pesquisadores abordam os eleitores. Além de usar máscara e face shield, o pesquisador segura o disco com o nome dos candidatos e lê para os que não conseguem enxergar na distância recomendada. Antes o disco era entregue na mão do eleitor.