No governo de Jair Bolsonaro, Paulo Uebel e Salim Mattar não conseguiram colocar em prática a agenda liberal. Ao pedirem demissão, em um movimento que o ministro da Economia, Paulo Guedes, definiu como “debandada”, acionaram o despertador para acordar o presidente de um sono de sonhos coloridos. Nesse sonho, a curva da popularidade subiria às alturas graças à injeção de dinheiro público em programas voltados para a eleição de 2022.
Ao dizer que os incomodados se retiram, Guedes passou um recado claro: se tiverem de ceder ao populismo, outros membros da equipe econômica seguirão a máxima de que a porta da rua é a serventia da casa. E ele, Guedes, não ficará para apagar a luz.
Sob risco de perder o ministro que lhe garantiu o apoio da elite empresarial na eleição, Bolsonaro acordou para a necessidade de se comprometer com o teto de gastos e com a reforma administrativa que reluta em encaminhar ao Congresso.
Foi o descaso com a reforma administrativa – e com o projeto de modernização da máquina pública – que levou o secretário Paulo Uebel, um liberal brilhante e de ideias incompatíveis com a ferrugem da máquina pública, a pedir demissão.
Nos quase 20 meses em que esteve no governo, Uebel trabalhou por uma reforma capaz de tornar a máquina mais leve. Em sintonia com Guedes, que propõe reduzir os salários de entrada no serviço público para que os funcionários não comecem ganhando o teto, Uebel esboçou um projeto re reforma. Bolsonaro mandou reescrever, mas deixou no freezer. Como não precisa de emprego no governo, Uebel pediu as contas.
O empresário Salim Mattar, que também não depende de favor, entrou cheio de planos de privatizar estatais, mas esbarrou na resistência do presidente, cuja conversão ao liberalismo só convenceu quem não conhece sua história ou prefere a fantasia à realidade.
Ao final da tarde desta quarta-feira (12), Bolsonaro apareceu em público ao lado dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), para reafirmar o compromisso com a austeridade fiscal e com as reformas. Os próximos meses dirão se o compromisso é sincero ou apenas uma tentativa de evitar o desastre que seria a saída de Guedes a esta altura do jogo.
O ministro da Economia sempre deixou claro que não fez pacto de sangue. Se não tiver espaço para colocar suas ideias em prática, faz as malas e vai viver no Exterior.
As juras da quarta-feira não significam que o ministro Paulo Guedes ganhou a guerra contra os defensores da gastança, entre os quais os os novos aliados do centrão. Ele já não é o superministro do início, mas continua sendo um dos pilares que sustentam o governo e o único capaz de conter a erosão provocada pela debandada de técnicos qualificados.