Basta uma passada de olhos pelas redes sociais para constatar que o bolsonarismo está em festa com a pesquisa do Instituto Datafolha, o mesmo que era execrado quando mostrava resultados negativos na avaliação do presidente Jair Bolsonaro. O Datafolha captou um fenômeno que já tinha sido detectado pela pesquisa XP Ipespe, que faz avaliações regulares do desempenho do presidente: a popularidade de Bolsonaro deu um salto.
Antes mesmo de qualquer pesquisa, o observador mais atento já tinha percebido que os panelaços da época da queda dos ministros Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro haviam cessado. A âncora desse aumento de popularidade é, muito mais do que a moderação do discurso, o auxílio emergencial pago a milhões de famílias para atenuar os efeitos da pandemia de coronavírus.
Mesmo com o aumento do desemprego, o baque na economia e as reduções de salário aplicadas em boa parte das empresas, a renda média do brasileiro cresceu nesse período crítico. Não se trata de crescimento sustentável, porque não decorre de aumento da produvitidade nem de exuberância econômica, mas nos curtíssimo prazo é fertilizante na popularidade do presidente, sobretudo no Nordeste, onde perdeu a eleição de 2018 e agora conquista terreno.
O problema de Bolsonaro é que os cofres públicos não têm lastro para manter o auxílio emergencial indefinidamente. Os que melhoraram de vida com a ajuda federal terão de voltar a procurar trabalho e renda fora da rede de proteção social nos próximos meses e encontrarão terreno árido com a economia abalada pela recessão.
Bolsonaro se beneficia também do desgaste de governadores e prefeitos, a quem cabe gerenciar as medidas de enfrentamento ao coronavírus. O cansaço da população com a quarentena e a pressão dos empresários pela retomada das atividades econômicas acaba por fortalecer o discurso do presidente, que sempre se posicionou contra as medidas restritivas.
Como ninguém consegue saber quantas mortes mais o Brasil teria sem as medidas de distanciamento social, além das 105 mil contabilizadas até agora, o discurso negacionista deixou de pesar contra o presidente para parcelas significativas da população.
Por fim, há um ponto que não pode ser ignorado na interpretação do resultado da pesquisa: a mudança no comportamento de Bolsonaro, que deixou de lado as bravatas e a postura de permanente confronto. Acuada com a prisão de Fabrício Queiroz, a família reduziu a presença nas redes sociais, eliminando mais um foco de desgaste. Assim como Lula nos tempos em que a economia ia bem, Bolsonaro se beneficia do chamado "Efeito Teflon": nele, nada cola. Nem as movimentações financeiras atípicas do filho Flavio, com dinheiro vivo, nem os depósitos de Queiroz na conta da primeira-dama.