Um dia depois de o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Wizard, afirmar que os Estados falseiam dados sobre óbitos por covid-19, os secretários de Saúde divulgaram nota repudiando o que chamam de “acusações levianas”.
Assinada pelo presidente do conselho e secretário da Saúde do Pará, Alberto Beltrame, a nota diz que, “além e revelar sua profunda ignorância sobre o tema”, Wizard “insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias”.
Os secretários também criticam a decisão do governo do presidente Jair Bolsonaro de ocultar da sociedade os dados sobre mortes. Relembrando, na gestão de Luiz Henrique Mandetta, o Ministério da Saúde divulgava o balanço de casos e mortes todos os dias, às 17h, em uma entrevista coletiva que permitia aos jornalistas esclarecerem dúvidas. Depois da queda do ministro, a divulgação passou para as 19h.
Nos últimos dias, já com o general Eduardo Pazuello no comando do Ministério da Saúde, o boletim foi empurrado para as 22h, com o objetivo de impedir a divulgação nos telejornais de maior audiência. Na sexta-feira (5), por fim, o governo tirou do ar o site com os dados e no boletim e retirou a informação sobre o número de mortes. Ao mesmo tempo, anunciou uma recontagem, com a alegação de Wizard de que os Estados estariam inflando a estatística para receber mais recursos federais.
Como as secretarias estaduais tornam públicos os números, o Jornal Nacional divulgou os dados a partir da soma feita pelo site G1 e informou sobre o atraso na publicação dos dados oficiais pelo Ministério da Saúde. Perto das 22h, a exibição da reprise da novela Fina Estampa foi interrompida por um plantão do Jornal Nacional com os números oficiais: 1.005 óbitos em 24 horas. O total de mais de 35 mil mortos não aparece no boletim oficial.
“A tentativa autoritária, insensível, desumana e antiética de dar invisibilidade aos mortos pela covid-19 não prosperará”, diz a nota, garantindo que os secretários e a sociedade brasileira não esquecerão a tragédia que se abate sobre a nação.
O texto dizendo que Wizard ofende secretários, médicos e todos os profissionais da saúde que têm se dedicado incansavelmente a salvar vidas, e que também menospreza a inteligência de todos os brasileiros, que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como “mercadoria”.
“Não somos mercadores da morte. A vida é nosso valor maior, com ela não se negocia, relativiza ou transige”, dizem os secretários.
Confira a íntegra da nota:
O Conass repudia com veemência e indignação as levianas afirmações do Secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Wizard.
Ao afirmar que secretários de Saúde falseiam dados sobre óbitos decorrentes da covid-19 em busca de mais “orçamento”, o secretário, além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias.
A tentativa autoritária, insensível, desumana e antiética de dar invisibilidade aos mortos pela covid-19 não prosperará.
Nós e a sociedade brasileira não os esqueceremos e tampouco a tragédia que se abate sobre a nação.
Ofende secretários, médicos e todos os profissionais da saúde que têm se dedicado incansavelmente a salvar vias.
Wizard menospreza a inteligência de todos os brasileiros, que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como “mercadoria”.
Sua declaração grosseira, falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito, merece nosso profundo desprezo, repúdio e asco.
Não somos mercadores da morte.
A vida é nosso valor maior, com ela não se negocia, relativiza ou transige.
O povo brasileiro é forte e resiliente, seguiremos a seu lado e juntos para preservar sua saúde e salvar vidas.
Alberto Beltrame,
Presidente do Conass.