No ranking do Ministério da Saúde, divulgado todos os dias ao fim da tarde, o Rio Grande do Sul oscila nos últimos dias entre a 15ª e a 16ª posições em número de casos confirmados de coronavírus. Eram 22.009 testes positivos no boletim desta quarta-feira (24), dado que não diz muito, porque depende da quantidade de exames feitos. Parece animador, pelo tamanho da população, mas não é.
No Dia de São João, o Estado chegou a 500 mortos por covid-19 (17ª posição no país). Poderiam ser mais, se medidas não tivessem sido adotadas, mas assim mesmo não é um número que se comemore, porque todas as vidas importam. Dizer que a maioria tinha mais de 60 anos ou alguma doença não atenua a dor das famílias.
Essa marca, que os negacionistas da gravidade da pandemia podem considerar irrelevante, já que o número de óbitos por outras causas é maior, precisa ser lamentada. Para além das estatísticas, são 500 vidas perdidas no Estado pelo vírus, o que significa 0,92% do total do Brasil. E, dizem os especialistas, não se chegou ao pico.
Essas 500 mortes equivalem a mais de dois incêndios da boate Kiss, ainda que seja incomparável uma tragédia que mata 242 jovens que se divertiam na mesma festa a uma pandemia que matou 500 em três meses.
Em outra comparação, é como se tivessem caído três aviões de porte médio lotados de pais, mães, avôs, avós, tios e tias.
Como a média é de cinco por dia, o efeito no imaginário da população se dilui e boa parte dos gaúchos age como se não houvesse uma pandemia, ataca o governador e os prefeitos que adotam medidas restritivas de circulação e berra que o isolamento não adiantou.
Como é impossível saber quantas vidas foram salvas, resta a comparação com a situação de outros Estados, que demoraram a adotar o distanciamento social e viram o sistema de saúde entrar em colapso, com pessoas morrendo na fila por falta de vaga nas UTIs. O outro Rio Grande, o do Norte, por exemplo, já contabiliza 807 vítimas fatais.
As próximas duas semanas serão críticas, segundo projeções feitas a partir do crescimento da demanda por leitos ambulatoriais e de UTI. Nenhum gestor público restringe as atividades econômicas por prazer, sabendo que a queda nas vendas vai significar desemprego e menor arrecadação.
Os que o fazem, agem com convicção de que a economia sofreria da mesma forma se mantivessem todas as portas abertas e começassem a empilhar cadáveres em contêineres frigoríficos ou a promover enterros coletivos, como se viu no Amazonas e no Pará.