Se Lula dissesse que se recusa a assinar um manifesto suprapartidário a favor da democracia para não estimular a radicalização que divide o país entre lulistas de bolsonaristas, estaria prestando um serviço ao país. Mas não é assim tão nobre o motivo pelo qual o ex-presidente critica manifestos como o “movimento estamos juntos”, que ganhou a adesão de artistas, políticos e profissionais liberais descontentes com os rumos do governo de Jair Bolsonaro, o “Basta”, subscrito por advogados e a campanha “Somos 70% contra Bolsonaro”. Lula simplesmente não aceita ser coadjuvante e não quer se misturar a eleitores arrependidos de Bolsonaro, nem com pessoas que trabalharam pelo impeachment de Dilma Rousseff:
- Sinceramente, eu não tenho mais idade para ser maria-vai-com-as-outras. O PT já tem história neste país, já tem administração exemplar neste país. Eu, sinceramente, não tenho condições de assinar determinados documentos com determinadas pessoas - disse Lula em transmissão nas redes sociais.
Embora reconheça que há “muita gente boa” nesses movimentos, Lula não quer se misturar porque, segundo justificou, nos manifestos “não se fala em classe trabalhadora e nos direitos perdidos”. Entre os políticos que aderiram ao Estamos Juntos (movimentoestamosjuntos.org), aberto a quem quiser participar, estão o ex-ministro Fernando Haddad, derrotado por Bolsonaro em 2018, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Lula parou no tempo em que era presidente e elegia postes ungidos com seu apoio, como Bolsonaro fez em 2018. Não percebe que suas manifestações nas redes sociais têm pouca relevância e que seu horizonte encolheu. Acha que o PT ainda tem o peso que teve no passado e ignora o desgaste produzido por escândalos como o da corrupção na Petrobras, desvendado na Operação Lava-Jato. Não entende que o PT é o adversário que Bolsonaro quer ter mais uma vez, para forçar uma polarização que em nada contribui para pacificar o país.
Os movimentos aos quais Lula vê com ressalvas não estão em campanha para eleger A ou B presidente, até porque a eleição é somente em 2022. Nem mesmo têm consenso sobre um possível processo de impeachment, que os políticos mais experientes sabem que ainda não está maduro. Defendem as liberdades democráticas e o respeito à Constituição. Rebelam-se contra os sucessivos ataques ao Congresso, ao Supremo Tribunal Federal e à imprensa, três alvos das milícias digitais bolsonaristas e dos grupos que vão para as ruas aos fins de semana pedir intervenção militar.