Foi por não saber ainda qual o impacto da liberação da construção civil e da indústria que o prefeito Nelson Marchezan optou por manter as atividades econômicas mais restritas do que em outros municípios da Região Metropolitana. A prorrogação do decreto até 31 de maio irritou comerciantes de diferentes setores, que não entendem a decisão do prefeito, já que Porto Alegre conseguiu achatar a curva de contaminação pelo coronavírus, tem número de mortes inferior ao estimado nas projeções e não enfrenta falta de vagas em UTIs.
É possível que mais setores sejam autorizados a cada semana, mas o prefeito também não descarta apertar ainda mais as restrições, se concluir que a liberação fez explodir o número de casos e que há risco de colapso no sistema hospitalar.
— Talvez daqui a uma ou duas semanas teremos que retroagir. Espero que não. Nós gostaríamos de liberar tudo, mas precisamos, primeiro, ter certeza de que nenhum porto-alegrense morrerá por falta de atendimento.
Na entrevista em que explicou detalhes do decreto, Marchezan exibiu comparações com outras capitais brasileiras e com cidades como Nova York, Madri, Paris, Berlim e Londres para contestar os argumentos de que Porto Alegre fechou cedo demais. As tabelas mostram o momento em que as medidas restritivas foram adotadas, a data do primeiro óbito e a situação atual. Entre a primeira morte na Capital e esta sexta-feira, passaram-se 37 dias e o total é de 15. Em Salvador, são 67. Em Recife, 236. E Manaus, são 312 mortes em 30 dias, sem contar a subnotificação, admitida pelo prefeito Arthur Virgílio Neto. No Rio, 535 em 38 dias.
— É exatamente o contrário. Quem fechou antes, poupou mais vidas — disse Marchezan.
O prefeito também justificou a opção por liberar primeiro os autônomos e pequenos negócios: são os que mais precisam de recursos para sobreviver e que oferecem menor risco de contaminação. Mesmo diante das críticas dos líderes do comércio, que pressionam pela liberação imediata para não perder as vendas dos Dia das Mães, o prefeito manteve as restrições a shopping centers, alegando que são pontos de aglomeração.
— Tem gente que diz que já atingimos o pico, mas não temos evidências de que o pior já passou — justificou.
Em nome da família
Na transmissão em que detalhou o decreto, o prefeito Nelson Marchezan aproveitou para homenagear os trabalhadores de Porto Alegre. Abriu com uma lâmina em que dizia “Obrigado! Parabéns! Vamos superar este momento” e terminou mostrando uma foto dos filhos Nelson Netto, Bernardo e Benício, no colo da mãe, Tainá Vidal.
Marchezan disse que entendia as dificuldades que as famílias estão enfrentando e, por isso, queria terminar com uma foto dos filhos.
Apelou para que os porto-alegrenses respeitem o distanciamento social:
— Fiquem em casa se puderem, protejam a família. Se precisarem sair, usem máscara para se proteger.
ALIÁS
Ao dar às galerias e centros comerciais menores o mesmo tratamento dos grandes shopping centers, o prefeito de Porto Alegre acaba impedindo o funcionamento de pequenos negócios, como salões de beleza e lojas atendidas pelos próprios donos. A pressão é para que esse ponto seja revisto.
Empresários inconformados
Na longa lista de líderes setoriais inconformados com a prorrogação do decreto do prefeito Nelson Marchezan, o sindicato que representa hotéis, bares e restaurantes está entre os mais indignados.
O presidente do Sindha, Henry Chmelnitsky, diz que o setor foi discriminado:
– O prefeito liberou os microempresários e microempreendedores individuais, mas deixou de fora bares e restaurantes. Qual a justificativa? Estas categorias são iguais, empregam e recebem as mesmas quantidades de clientes.
O setor já demitiu mais de 25% dos trabalhadores.