Desde que era apenas uma boa intenção, acompanho a história da penitenciária feminina de Lajeado, construída pela comunidade para não ser apenas um depósito de pessoas privadas da liberdade. Conheci o projeto pelo juiz Luiz Antônio Johnson, um magistrado que faz a diferença na sociedade.
Nestes dias de confinamento, em que presos são notícia porque estão sendo liberados por juízes com o argumento de reduzir as chances de contaminação pelo coronavírus, o dr. Johnson mandou notícias. Primeiro, uma mensagem curta: “Olha para que serviu o Presídio de Lajeado”, acompanhando um card em que informava: “Apenadas do Presídio Estadual Feminino de Lajeado estão produzindo máscaras de tecido para profissionais da segurança pública”. Logo abaixo, um pedido de doação de tecido TNT gramatura 40 na cor branca, algodão tricoline, elástico e linha branca”. Hoje, veio mais uma: “Valeu a pena. Me emociono. Enfrentei muitas resistências”. Em anexo, oito fotos e uma reportagem do G1 sobre o trabalho das detentas de Lajeado que estão costurando máscaras e lençóis para ajudar no enfrentamento ao coronavírus.
Em outros presídios Brasil afora presos também estão costurando máscaras, lençóis e aventais, mas o que Lajeado tem de diferente é a concepção dessa penitenciária e a humanidade com que as presas são tratadas. São mulheres que cometeram crimes, foram julgadas, condenadas e estão cumprindo pena. Mas trabalham, estudam e se preparam para o dia que ganharem a liberdade. Das que por lá passaram, nenhuma reincidiu. Nas inspeções, nunca se encontrou drogas nem celulares. São 28 presas no momento. Sete aprenderam a costurar.
A primeira leva, de 400 máscaras feitas com material doado pela comunidade, foi repassada à prefeitura de Lajeado. As próximas, com matéria-prima fornecida pela Susepe, serão repassadas servidores e detentos dos presídios da região. A detentas costuram de dia. À noite, as agentes da Susepe que estão de plantão usam as máquinas para dar continuidade à produção.
A produção é ínfima diante da necessidade que se terá nos próximos meses, mas registro neste diário porque em tempos de escassez de equipamentos de proteção individual, exemplos como o das presas de Lajeado podem servir de inspiração a quem está entediado com a quarentena. O que cada um pode fazer para ajudar os profissionais da saúde, os caminhoneiros, os autônomos que ficaram sem renda, os desempregados, os moradores de rua?
Hoje o ministro Paulo Guedes detalhou o pacote de socorro à economia. São medidas importantes, que custarão bilhões de reais, mas demoram para chegar lá na ponta porque é preciso desbravar um cipoal burocrático. Trabalhadores informais receberão um voucher de R$ 600. Empresas poderão suspender contrato de trabalho ou cortar até 870% do salário. O governo compensará parte da perda da renda.
Todas as previsões, na saúde e na economia, indicam que dias piores virão. Temos de manter o isolamento social por mais 15 dias, 30, 60, talvez, para que a travessia seja menos turbulenta. Qualquer tentativa de prever o futuro é perda de tempo. Resiliência, exercícios físicos e tarefas para ocupar a mente serão mais necessários do que nunca.
A curva de casos e mortes segue ascendente, mas ainda longe dos países em que o caos já se instalou. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, diz que o número de casos oficiais é muito menor do que o número real de pessoas infectadas. No boletim oficial do primeiro dia de abril eram 6.836 casos confirmados e 241 óbitos.
Nos Estados Unidos, as autoridades estimam o número de mortos entre 100 mil e 240 mil, mesmo com o isolamento social. Sem o isolamento, poderiam passar de 1 milhão. O presidente Donald Trump disse que as próximas duas semanas serão “muito dolorosas”.