A sabedoria popular ensina que quem não ajuda, não estorva. O deputado Eduardo Bolsonaro, que em nada vem contribuindo no esforço do enfrentamento do coronavírus, resolveu estorvar quem está trabalhando ao criar uma crise desnecessária com a China, um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Nada mais inadequado no momento em que o país vive uma crise sem precedentes e precisa de foco para salvar vidas e atenuar os impactos da crise econômica global.
No afã de imitar o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chama o coronavírus de “vírus chinês”, o filho número três do presidente Jair Bolsonaro arranjou uma crise diplomática ao responsabilizar os chineses pela doença que está abalando o mundo.
Na noite de quarta-feira (18), o “garoto” de 35 anos que pretendia ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos subscreveu uma teoria conspiratória típica dos aloprados que aplaudem seus desatinos nas redes sociais. Escreveu o filho do presidente em seu perfil no Twitter, reproduzindo a postagem de um certo Rodrigo da Silva:
“Quem assistiu Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução.”
A postagem provocou reação imediata do embaixador chinês Yang Wanming. Na mesma rede social, o diplomata repudiou a fala do deputado: “A parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e a Câmara dos Deputados".
A conta oficial da Embaixada da China foi além. Disse que as palavras de Eduardo “são extremamente irresponsáveis e nos soam familiares. Não deixam de ser uma imitação dos seus queridos amigos. Ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizades entre os nossos povos”.
Os bombeiros de sempre correram para apagar o incêndio. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pediu desculpas ao governo chinês: “A atitude não condiz com a importância da parceria estratégica Brasil-China e com os ritos da diplomacia. Em nome de meus colegas, reitero os laços de fraternidade entre nossos dois países. Torço para que, em breve, possamos sair da atual crise ainda mais fortes".
O vice-presidente Hamilton Mourão levou o assunto ao topo dos assuntos mais comentados do Twitter com a hashtag #EduardoBananinha.
— Se o sobrenome dele fosse Eduardo Bananinha, não era problema nenhum. Só por causa do sobrenome. Ele não representa o governo — disse Mourão à Folha de S.Paulo.
Bingo. O apelido colou e será difícil para o deputado livrar-se dele nos próximos anos, principalmente se continuar falando demais.
Cobrado por ruralistas, que vendem seus produtos para a China e não querem encrenca com parceiros comerciais, Eduardo se defendeu dizendo que não teve a pretensão de falar pelo governo brasileiro. Em nota, tentou se explicar, dizendo que apenas reproduziu uma publicação com críticas à forma como a China tratou o coronavírus.
Nesta quinta-feira, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tentou inverter o jogo, acusando o embaixador de desrespeitar o Brasil e pediu retratação. A última frase da nota divulgada por Araújo é uma pérola da nova diplomacia brasileira: “Conversei com o deputado Eduardo Bolsonaro e com o embaixador da China, procurando promover um entendimento recíproco”.