O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço.
Um evento marcado para ocorrer na Assembleia Legislativa do Estado está causando polêmica entre deputados. A palestra “Epidemia de transgêneros” foi agendada para o dia 18 de março, no espaço de convergência do Legislativo, por solicitação do deputado Eric Lins (DEM).
Um card que circula nas redes sociais convida para a palestra com a pergunta: “O que está ocorrendo com nossas crianças e adolescentes?”. A palestrante será a psiquiatra Akemi Shiba, que atende em Porto Alegre.
Em texto recente para o site Articulação Conservadora, Akemi descreve a procura por cirurgias de troca de sexo como uma “pandemia”:
“Está se criando um contingente de jovens estéreis, mutilados e com grande sofrimento emocional. Indivíduos fisicamente hígidos e férteis são transformados em indivíduos estéreis mutilados que dependerão de hormônios para o resto de suas vidas mesmo que 'destransicionem'”, escreveu a psiquiatra, em seu artigo.
A realização do evento no parlamento gaúcho foi questionada na manhã desta terça-feira (3) pelo deputado Gabriel Souza (MDB), na reunião da Mesa Diretora, e pela deputada Luciana Genro (PSOL), na reunião de líderes. Após as contestações, Eric Lins solicitou a troca do nome do evento para “Proliferação de transgêneros”. Mais tarde, a denominação foi atualizada para "Aspectos médicos e desenvolvimentais da disfonia de gênero na infância e adolescência".
A presidente do Conselho Estadual de Promoção dos Direitos LGBTs, Cleonice Araujo, e a assessora parlamentar Natasha Ferreira, ambas transexuais, foram ao Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) denunciar a conduta da psiquiatra.
À coluna, Lins explicou que o pedido do espaço foi feito pela palestrante e que o objetivo do evento é verificar “os motivos da multiplicação do número de transexuais na sociedade”.
— A proposta é de conversar sobre se está havendo ou não uma hiperssexualização proveniente da mídia, das novelas e da televisão — afirmou.
Lins disse ainda que não considera a transexualidade como doença e que o termo “epidemia” foi utilizado como sinônimo de “multiplicação”.
— Vamos promover a discussão desse fenômeno social e em que as ideologias de gênero foram objeto de estudo nas universidades. E discutir se esse grupo social, dos transsexuais, está sendo usado como massa de manobra por movimentos políticos.
O presidente da Assembleia, Ernani Polo (PP), justificou que os deputados têm a prerrogativa de marcar eventos na dependência do Legislativo, e que não cabe à Casa avaliar o mérito das proposições.
— A Assembleia Legislativa é uma Casa plural, formada por deputados que representam todas as linhas de pensamento. A utilização dos espaços físicos para a realização de eventos é uma prerrogativa de todos os parlamentares, sem necessidade de avaliação da Mesa Diretora —disse Polo.
Em novembro do ano passado, a Assembleia também foi questionada sobre um evento promovido por deputado. Na ocasião, uma exposição viabilizada por Luiz Fernando Mainardi (PT) sobre a Palestina motivou uma nota de repúdio da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (Firs).