Na tentativa de tranquilizar os brasileiros diante do avanço do novo coronavírus, o vice-presidente Hamilton Mourão, disse nesta segunda-feira (9) que o "pânico" da população não condiz com a realidade:
— Não está muito bem, mas é uma questão transitória, a gente sabe que essa é a primeira epidemia da internet, por isso existe um pânico que não é compatível com a realidade, apesar de ter havido mortes — afirmou.
As declarações de Mourão são preocupantes, porque podem passar a ideia de que o Planalto está subestimando um problema que levou o governo da rica Itália a colocar todo o país em quarentena.
É fato que o índice de letalidade é inferior ao de outras doenças, mas não se pode considerar alarmismo a preocupação com um vírus que paralisou a China, segunda maior economia do mundo, com reflexos em todo o planeta, e que já matou cerca de 4 mil pessoas.
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, disse nesta segunda que a ameaça de pandemia pelo coronavírus é real. De acordo com o último boletim da OMS, 101 países, áreas ou territórios já foram atingidos pelo vírus.
No Brasil, com 25 casos confirmados pelo Ministério da Saúde, mais cinco notificados no final da tarde pela Secretaria da Saúde do Rio de Janeiro, e nenhuma morte, os números ainda não são alarmantes, mas há que se considerar um ponto: os infectados até agora não são pacientes do SUS. Ou são pessoas que viajaram à Europa ou parentes e amigos que tiveram contato. Se os casos se multiplicarem entre a população pobre, como garantir a prevenção e o atendimento?
O Ministério da Saúde vem tomando as providências que considera adequadas, como recomendar à população que evite procurar as emergências para reduzir o risco de contaminação. Hospitais públicos vêm sendo preparados para isolar os pacientes que precisarem de internação, mas o número de leitos e profissionais disponíveis (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e pessoal de apoio) é insuficiente em caso de um surto como o que levou a Itália a adotar e medidas drásticas.
Cinco mil médicos serão chamados para reforçar a rede básica de saúde, mas sabe-se que o SUS não consegue sequer dar vazão à demanda ordinária por atendimentos. O Brasil não tem a capacidade da China de construir hospitais em poucos dias nem recursos para assegurar a prevenção adequada. Ou alguém imagina que quem conta os centavos para o pão e o leite vai conseguir comprar álcool gel para a família carregar no bolso?
É compreensível que as autoridades não queiram alarmar ainda mais a população, que já está alarmada — não apenas com o risco de contrair o vírus, mas de perder o emprego em consequência do tombo na economia.
Quando o ministro da Economia, Paulo Guedes, diz que está "absolutamente tranquilo", que a resposta do Brasil à turbulência do mercado será a aprovação das reformas, está dourando a pílula. Ninguém de sã consciência pode estar "absolutamente tranquilo" com a Bolsa caindo 12,16% em um dia e o dólar batendo sucessivos recordes, para fechar o dia em R$ 4,73. Sim, as reformas são necessárias e a crise provocada pelo coronavírus pode ajudar na sua aprovação, mas, para que sejam votadas o governo precisa encaminhá-las ao Congresso.
Nesta segunda, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disse que as reformas são insuficientes para conter a instabilidade econômica decorrente da crise internacional e cobrou do governo o envio dos textos ao Congresso:
— Tem algumas ações que o governo vai ter de tomar, algumas atitudes, e parte delas, parte da solução de médio e longo prazo são as reformas (...) Ainda não chegou nem a administrativa e nem a tributária, e a PEC emergencial o governo decidiu encaminhar uma pelo Senado e não utilizar a do deputado Pedro Paulo, que estava pronta desde 2017, 2018.