Com quatro horas de diferença, a posse dos presidentes da Assembleia, Ernani Polo, e do Tribunal de Justiça, Voltaire de Lima Moraes, teve o diálogo como ponto de conexão. O deputado e o desembargador emitiram sinais de que trabalharão para pacificar o Estado e buscar convergências.
A decisão de Polo de assumir o comando da Assembleia pela manhã permitiu que a posse de Voltaire fosse uma das mais prestigiadas de todos os tempos. Em anos anteriores, as autoridades tinham de optar entre o Legislativo e o Judiciário. O governador ia a uma cerimônia, enquanto o vice representava o Estado na outra.
Nesta segunda-feira (3), Eduardo Leite e Ranolfo Vieira Júnior prestigiaram as duas. Leite encerrou o dia na posse do presidente da Ajuris, Orlando Faccini Neto, e ainda foi ao jantar comemorativo.
Seis ex-governadores assistiram ao discurso do desembargador, que já foi procurador de Justiça. Ao saudar Jair Soares, Pedro Simon, Alceu Collares, Olívio Dutra, Germano Rigotto e José Ivo Sartori, Voltaire disse que o Tribunal de Justiça estará sempre de portas abertas:
— Com uns mais, outros menos, tive o privilégio de compartilhar momentos importantes da vida pública com os senhores.
Voltaire falou durante 57 minutos. Mencionou os problemas do Judiciário, como a falta de juízes e de servidores, os processos que se arrastam por anos, em parte por culpa de um sistema recursal sem precedentes no mundo. Prometeu interlocução permanente, interna e externa, defendeu a imprensa livre e acenou com um novo plano de carreira para os servidores.
O desembargador deixou claro que será guardião da autonomia e da independência dos poderes, garantida na Constituição.
— Nem todos os membros e chefes de poder compreendem o princípio da autonomia e da independência, seja por inexperiência ou por falta de maturidade — disse, em uma frase interpretada como recado a Leite, que propôs o congelamento do orçamento.
O desembargador Carlos Eduardo Duro, que se despediu do cargo, foi mais explícito, referindo-se à resistência do Tribunal de Justiça ao congelamento:
– Não é admissível que o Poder Executivo nos imponha um orçamento sem considerar a inflação. Temos de preservar a autonomia que a Constituição nos garante.
Entrosamento
O entrosamento do novo presidente da Assembleia, Ernani Polo, com o governador Eduardo Leite, o vice, Ranolfo Vieira Júnior e o procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen, ficou evidente na solenidade de posse.
O discurso foi simples, evocando suas raízes rurais, sem perder de vista os problemas do Estado e a necessidade de olhar para o futuro.
— Venho lá de longe, venho lá de fora. Fui forjado trabalhando no campo, de sol a sol, plantando e colhendo e, muitas vezes, até plantando sem colher — começou o deputado, referindo-se à estiagem e se solidarizando com os agricultores que perderam a produção pela falta de chuva.
Polo destacou a força das redes sociais, que dão voz ao cidadão e, no encerramento, fez um apelo aos gaúchos:
— Vamos em frente porque o futuro tem pressa! Atitude para um Rio Grande do Sul mais competitivo.
Sinal de prestígio
Na posse de Ernani Polo, cinco ex-governadores marcaram presença: Jair Soares (PP), Olívio Dutra (PT), Germano Rigotto (MDB), Tarso Genro (PT) e José Ivo Sartori (MDB).
O deputado Jerônimo Goergen (PP), de quem Polo foi assessor, representou a Câmara na mesa das autoridades.
Aliás
Apesar de o vice-prefeito Gustavo Paim estar sentado entre as autoridades na posse de Ernani Polo na Assembleia, quem representou o prefeito Nelson Marchezan foi o secretário de Relações Institucionais, Christian Lemos. A picuinha não tem limite.
Virou pó
O placar de 23 votos contrários e apenas nove favoráveis ao projeto que acabava com a obrigação de manter cobradores de ônibus das 22h às 4h é indicativo do que espera o prefeito Nelson Marchezan nas próximas votações.
Se um projeto que já estava maduro na Câmara foi derrubado com números tão expressivos, imagine-se o que institui a cobrança de pedágio para carros emplacados fora de Porto Alegre entrarem na Capital. A base de Marchezan na Câmara virou pó.