Em 1992, como presidente da Câmara, o deputado Ibsen Pinheiro chegou a ser o homem mais importante da política brasileira. Pela forma como conduziu o processo de impeachment de Fernando Collor, era aplaudido em aeroportos e saudado como forte candidato à Presidência da República na eleição de 1994. Em maio do ano em que os brasileiros escolheram Fernando Henrique Cardoso presidente, Ibsen teve o mandato cassado em um dos mais espetaculares casos de ascensão e queda da política brasileira.
Bom de discurso, parecia imbatível no início de 1993, quando esteve em Recife, no início de um roteiro-teste de sua popularidade. No Palácio do Campo das Princesas e na Câmara de Vereadores de Recife, foi saudado como futuro presidente. Cenas idênticas se repetiriam nos meses seguintes, até ser engolfado pelo escândalo dos anões do orçamento.
Uma foto dele na Turquia com os principais envolvidos no escândalo de desvio de recursos do orçamento federal manchou o que até então era uma biografia irretocável. Vazamentos de quebras de sigilo bancário por membros da CPI do Orçamento jogavam na vala do escândalo os principais nomes do MDB.
Uma capa da revista Veja, com a chamada "Até tu, Ibsen?", foi decisiva para a queda do ex-homem forte da Câmara. Anos depois, o repórter Luís Costa Pinto admitiu que houve um erro: a revista acrescentou um zero a mais em uma conta do deputado, fruto da quebra de sigilo, e não corrigiu o erro imediatamente. Ibsen caiu em desgraça. A Câmara cassou seu mandato.
O homem antes aplaudido nos aeroportos foi vaiado no avião quando voltava ao Rio Grande do Sul para recomeçar a vida como promotor do Ministério Público Estadual.
Mesmo arrasado, Ibsen nunca baixou a cabeça. Dizia que um dia a verdade iria aparecer.
Quando Costa Pinto admitiu o erro da revista, Ibsen disse que estava de alma leve, mas era tarde demais para recuperar a carreira política nacional. Estimulado pelos companheiros do MDB, recomeçou pelo seu Estado e retirou-se da vida pública depois de passar pela Assembleia Legislativa.
Ibsen ficará na memória de quem o conheceu como um homem que não perdeu a elegância nem quando desceu ao fundo do poço. Autor da frase "o que o povo quer esta Casa acaba querendo", é reconhecido como profundo conhecedor das engrenagens da política, da Constituição e das leis ordinárias. Foi esse conhecimento que lhe permitiu conduzir o processo de impeachment que, pela primeira vez, retirou um presidente do poder em 1992.