Em janeiro de 1982, meu tio Heitor, irmão mais velho do meu pai, viajou 258 quilômetros de Espumoso a Porto Alegre só para me ver receber o diploma de jornalista. Neste sábado, fiz 293 quilômetros no sentido inverso para ver minha prima Marluce Muhl, caçula desse tio já falecido, subir ao palco para receber o certificado de conclusão do mestrado em Envelhecimento Precoce da Universidade de Passo Fundo (UPF), e entrar para o grupo de 0,8% dos brasileiros de 25 a 64 anos que ostentam o título de mestre.
Não é usual que as universidades façam atos coletivos de entrega de certificados a mestres e doutores, mas a UPF decidiu que, a partir deste ano, seu programa de pós-graduação tornará solene a celebração, para que o último ato dessa jornada do conhecimento não seja a tensão diante da banca. Em 2020, os concluintes provavelmente usarão togas, como na graduação, mas no sábado estavam vestidos com a mesma roupa que usariam em uma festa de amigos.
O que mais me chamou atenção no ato de entrega dos certificados foi a maioria absoluta de mulheres. Por alto, calculo que a proporção era de três por um. Comecei a anotar os nomes ao perceber que, em alguns cursos, só havia mestras e doutoras. A foto do grupo não dá a dimensão exata dessa maioria feminina porque nela estão também os orientadores e coordenadores, mas quem assistiu à cerimônia testemunhou o que talvez esteja ocorrendo em outras universidades e eu é que não tinha percebido: as mulheres estão com mais sede de conhecimento do que os homens.
Antes que alguém imagine que estou falando da área de educação, na qual as professoras são maioria, esclareço que não. Elas se destacavam em Tecnologia de Alimentos e Agronomia, por exemplo, e foi impossível não me perguntar se o protagonismo feminino não seria influência da pesquisadora Lisete Augustin, que a UPF perdeu neste ano e deixou seu nome inscrito na história da instituição. Registrei um empate em quatro a quatro em Ensino de Ciências e Matemática, essa área tão carente de especialistas.
No mestrado em Envelhecimento Humano, área nova que a partir de 2020 também doutorado, só dois homens (Jorge e Mateus) ao lado de nove mulheres (Ana Paula, Bruna, Camila, Joana, Lidiane, Sabrina, Luziana, Marluce e Márcia).
A última a receber o certificado foi Camila, única mestra em Projeto e Processos de Fabricação. Não anotei o sobrenome, mas aplaudi com entusiasmo aquela menina que certamente já enfrentou preconceitos, mas foi em frente convencida de que lugar de mulher é onde ela quiser estar.