A reação da cúpula e de líderes petistas à lúcida entrevista dada à revista Veja pelo governador da Bahia, Rui Costa, mostra que o PT é incapaz de aprender com seus erros. Quando um dos seus diz o óbvio, vira maldito.
É sempre mais fácil terceirizar a responsabilidade pelo fracasso do que fazer uma reflexão serena dos erros que ajudaram a criar o clima que culminou com a vitória de Jair Bolsonaro no ano passado.
Reeleito em 2018 com 75% dos votos, Costa se apresenta como pré-candidato à Presidência em 2022. Está sendo crucificado pelos companheiros porque ousou dizer à Veja que o PT não deve impor a bandeira “Lula livre” nas discussões de alianças com outros partidos. A frase veio na sequência da defesa de uma frente para pensar um projeto de país em oposição a Bolsonaro. Não foi o único pecado. O governador criticou a estratégia adotada em 2018, quando o PT insistiu na candidatura de Lula, mesmo sabendo que ele, preso em Curitiba, não poderia concorrer. Disse que o partido deveria ter apoiado Ciro Gomes, criticou as violações de direitos humanos na Venezuela e pediu o endurecimento de punições para assassinos.
Embora faça ressalvas à Lava-Jato, Costa é realista:
– Não sou da opinião de que tudo o que foi apurado é falso ou fruto de manipulação para perseguir e condenar o PT e outros partidos de esquerda. Muitas daquelas coisas têm provas materiais.
Com seis pontos, a nota da executiva do PT é simplória, para dizer o mínimo. Atribui o resultado da eleição ao “uso criminoso de notícias falsas pela campanha de Bolsonaro, com financiamento ilegal até de fontes estrangeiras, contando com a omissão da mídia e da Justiça Eleitoral”.
Outro alerta de Rui Costa que a direção do PT se recusa a aceitar: não adianta a oposição ficar apenas na negativa, criticando os erros do governo, sem apresentar propostas concretas para que o Brasil retome o desenvolvimento.
Confira a nota da executiva nacional do PT
"1- O PT tomou uma decisão absolutamente correta ao lançar candidatura própria nas eleições presidenciais de 2018. O companheiro Lula, nosso primeiro representante, liderava todas as pesquisas de opinião, com forte tendência a vencer no primeiro turno. Com a candidatura de Lula ilegalmente cassada, lançamos o nome de Fernando Haddad que teve grande desempenho político e eleitoral, chegou ao segundo turno e só não venceu a eleição pelo uso criminoso de notícias falsas pela campanha de Bolsonaro, com financiamento ilegal até de fontes estrangeiras, contando com a omissão da mídia e da Justiça Eleitoral;
2- O eventual apoio do PT a Ciro Gomes, se à época já não se justificava porque nunca foi intenção dele constituir uma alternativa no campo da centro-esquerda, hoje menos ainda, dado que ele escancara opiniões grosseiras e desrespeitosas sobre Lula, o PT e nossas lideranças;
3- Dado o caráter autoritário, antinacional e fortemente antipopular do governo Bolsonaro, não cabe outra atitude ao PT que não seja fazer oposição permanente e destemida a seu governo neoliberal de extrema-direita e promover a defesa intransigente das liberdades e da democracia que ele ameaça diuturnamente. Diferentemente do que afirma o companheiro Rui, o PT não tem se restringido a combater o governo. Elaboramos e apresentamos propostas para enfrentar os graves problemas do país e do povo, como o desemprego, o aumento da injustiça social, para o sistema tributário, o pacto federativo, entre outros.
4- O PT não impõe condições para dialogar com todos os setores que se oponham ao governo autoritário, antinacional e antipovo. Ao contrário, temos trabalhado fortemente pela reconstituição da frente de esquerda dentro e fora do parlamento, pela construção da mais ampla frente democrática e participado de todos os fóruns em defesa da liberdade e da democracia. Em todos esses espaços denunciamos o caráter político da prisão de Lula e o que isso representa de afronta ao próprio regime democrático. Temos bem claro que a bandeira " Lula livre" é central na defesa da democracia, da soberania e dos direitos no Brasil;
5- Nossa visão sobre a Venezuela considera primeiramente que o país vizinho se encontra sob criminoso embargo econômico e tentativa de intervenção militar estadunidense (com apoio do governo Bolsonaro), o que denunciamos em todos os fóruns. O PT repudia as tentativas de golpe, defende a pacificação do país e uma saída negociada democraticamente para a crise da Venezuela, respeitando o direito de autodeterminação do povo venezuelano;
6- Consideramos totalmente extemporâneo o debate sobre candidaturas presidenciais para 2022. No momento, nossa luta é para fortalecer a resistência ao bolsonarismo, defender a soberania nacional e os direitos sociais ameaçados. Esse processo vai produzir as condições políticas e a frente que irá, no campo da centro-esquerda, representar o povo brasileiro nas eleições de 2022. O PT certamente fará parte desse conjunto e, sendo um partido democrático como os demais, poderá sugerir nomes de seus quadros para participarem desse processo. É alentador identificar em nossas fileiras nomes com legitimidade para assumir essa responsabilidade, a começar pelo companheiro Lula, com sua reconhecida capacidade para unificar essas forças e o próprio povo brasileiro. O PT saberá fazer esse debate, democraticamente, no momento adequado.
Comissão Executiva Nacional do PT"