A Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) manifestou solidariedade ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, horas depois do ataque proferido pelo presidente Jair Bolsonaro. Nesta manhã, Bolsonaro disse: "Se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto".
Em nota divulgada nesta segunda-feira, a desembargadora Vera Lúcia Deboni, presidente da Ajuris, disse que as afirmações insultam Santa Cruz "pela rememoração de um episódio por certo trágico em sua experiência pessoal". As manifestações de Bolsonaro, sustenta a magistrada, "representam a conspurcação das leis e da Constituição brasileira, visto que tendestes a justificar a tortura e a morte cometidas por agentes do Estado, quando, em absolutamente nenhum caso, a tortura e a morte podem ultrapassar a categoria de insuplantável interdito".
Por fim, Deboni avalia que "o exercício do mais alto cargo da estrutura pública brasileira exige decoro, serenidade e contenção verbal; a memória dos mortos no período autoritário brasileiro não pode ser vilipendiada; os governados do presente, todos eles, merecem respeito".
Felipe é filho de Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido em fevereiro de 1974, depois de ter sido preso junto de um amigo chamado Eduardo Collier por agentes do DOI-CODI, no Rio de Janeiro. Ele tinha dois anos quando o pai desapareceu.
Fernando era estudante de Direito, funcionário do Departamento de Águas e Energia Elétrica em São Paulo e integrante da Ação Popular Marxista-Leninista. No relatório da Comissão da Verdade, responsável por investigar casos de mortos e desaparecidos na ditadura, não há registro de que Fernando tenha participado de luta armada.