A prisão de quatro suspeitos de hackear os celulares do ministro Sergio Moro, do procurador Deltan Dallaganol e de outras mil pessoas, incluindo jornalistas, é só o ponto de partida para desvendar um possível esquema de espionagem em escala industrial.
Um dos presos teria confessado a autoria da invasão das contas do Telegram. A Polícia Federal (PF) detalhou a forma, relativamente simples, usada para se fazer passar pelo dono do telefone e acessar as mensagens do aplicativo a partir de um computador.
É indiscutível que violar a correspondência de um terceiro é crime, seja o ministro da Justiça, seja um joão-ninguém. O que a investigação precisa descobrir agora é se o serviço foi encomendado – e por quem – ou se os hackers invadiram as contas para vender informações. Seja como for, houve ilícito penal e seguir a trilha do dinheiro é a primeira providência da PF para desvendar o esquema.
Uma coisa chama a atenção: não é fácil obter o número do celular de pessoas do porte de Moro, Deltan e outros figurões que supostamente tiveram as contas invadidas. Como os hackers de Araraquara tinham uma agenda tão rica?
Moro apressou-se em ligar os quatro hackers ao material que vem sendo divulgada pelo site The Intercept Brasil. Essa conexão não foi mencionada na decisão do juiz federal Vallisney de Souza Oliveira, que autorizou as detenções, nem no pedido do Ministério Público Federal.
Em seu perfil no Twitter, o ministro escreveu: “Parabenizo a Polícia Federal pela investigação do grupo de hackers, assim como o MPF e a Justiça Federal. Pessoas com antecedentes criminais, envolvidas em várias espécies de crimes. Elas, a fonte de confiança daqueles que divulgaram as supostas mensagens obtidas por crime”.
Aliás
A se confirmar que foram os hackers de Araraquara que forneceram material para o site The Intercept Brasil, entra para o anedotário nacional a teoria conspiratória segundo a qual havia uma conexão com espiões russos pagos em bitcoins.