É no mínimo perigosa a afirmação do presidente Jair Bolsonaro, de que o jornalista Glenn Greenwald poderia pegar “uma cana” no Brasil, se referindo à possibilidade do americano ser preso.
No fim de semana, perguntado sobre portaria assinada pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, que prevê deportação sumária de estrangeiros que tenham praticado ato “contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição”, Bolsonaro respondeu que Greenwald não se encaixava na norma:
– Ele não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora não.
A insatisfação de Bolsonaro com a publicação dos diálogos obtidos pelo site The Intercept Brasil é compreensível, afinal, um de seus ministros também está implicado nas conversas que mostram o lado B da operação Lava-Jato. No entanto, o presidente flerta com o autoritarismo ao ventilar a hipótese de prisão do jornalista dono do site. Em primeiro lugar, a legislação não permite que o chefe do Poder Executivo mande prender pessoa que lhe desagrade. Em segundo, por qual razão Greenwald seria preso?
Até o momento, o hacker Walter Delgatti Neto, preso pela Polícia Federal, sustenta que não recebeu dinheiro do site para repassar os diálogos. Greenwald, portanto, não cometeu crime ao publicar as conversas, cujo conteúdo o jornalista avaliou ser de interesse público.
Há de se deixar claro que não há motivo para a prisão do americano porque, até agora, não há evidências de transgressão da lei. Delgatti, ao contrário, cometeu crime ao violar a privacidade alheia e acessar as conversar – a prática foi confessada por ele.
Aliás
Associações de jornalismo criticaram a declaração do presidente. A Abraji afirmou que Bolsonaro “instiga graves agressões à liberdade de expressão”. A Associação Brasileira de Imprensa sustenta que houve uma “tentativa de intimidar um jornalista independente e uma ameaça à liberdade de imprensa”.