Chefe de redação do site The Intercept, a jornalista americana Betsy Reed divulgou uma nota neste domingo (28) rebatendo as acusações que o presidente Jair Bolsonaro fez a respeito de Glenn Greenwald, que atua como editor do portal no Brasil e está à frente da divulgação do conteúdo das mensagens supostamente trocadas entre procuradores da Lava-Jato.
Em evento no Rio, Bolsonaro disparou uma série de ofensas a Greenwald, homossexual assumido e casado com o deputado federal David Miranda (PSOL-RJ), com quem tem dois filhos adotivos, ambos nascidos no Brasil. O presidente chamou Miranda e Greenwald de "malandros" e sugeriu que o jornalista americano se casou somente para evitar uma deportação. Também indicou que Greenwald pode "pegar uma cana", gíria para prisão.
Na nota, Betsy Reed condenou as declarações de Bolsonaro e lembrou que Greenwald é casado com Miranda há 14 anos, muito antes de o americano coordenar as reportagens sobre mensagens que colocam em dúvida a isenção de membros da força-tarefa. Também disse que a sugestão de que o jornalista pode "pegar uma cana" representa uma ameaça aos repórteres do site.
No Twitter, Greenwald divulgou um vídeo em que considera "nojenta" a suposição do presidente de que teria adotado crianças para se proteger da lei de deportação.
— Ontem, Jair Bolsonaro sugeriu que nós adotamos duas crianças para ter proteção sobre a lei. Obviamente, essa situação é nojenta, ninguém faria isso e não precisava isso, porque somos casados com certidão brasileira — disse, durante uma viagem de carro em que os dois filhos aparecem dormindo no banco de trás.
A lei de deportação a que Bolsonaro fez referência trata-se da portaria assinada por Sergio Moro que estabelece um rito sumário de deportação de estrangeiros considerados "perigosos" ou que tenham praticado ato "contrário aos princípios e objetivos dispostos na Constituição Federal".
Sobre Greenwald, o presidente disse o seguinte:
— Ele (Glenn) não se encaixa na portaria. Até porque ele é casado com outro homem e tem meninos adotados no Brasil. Malandro, malandro, para evitar um problema desse, casa com outro malandro e adota criança no Brasil. Esse é o problema que nós temos. Ele não vai embora, pode ficar tranquilo. Talvez pegue uma cana aqui no Brasil, não vai pegar lá fora, não — afirmou Bolsonaro durante um evento realizado neste sábado (27) no Rio.
Confira a nota completa da chefe de redação do site The Intercept:
O Intercept condena veementemente as declarações que o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, fez sobre o jornalista e cofundador do Intercept, Glenn Greenwald. Jair Bolsonaro chamou Glenn Greenwald de "malandro" por ter casado com um brasileiro e adotado crianças no Brasil, o que dificultaria sua deportação no país. A acusação seria ridícula se não fosse perigosa: o casamento de Glenn Greenwald ocorreu há 14 anos, antes dele e da equipe do Intercept Brasil terem começado a publicar uma série de reportagens baseadas em um arquivo de conversas secretas revelando a má conduta de certos membros da força-tarefa da Lava-Jato.
Bolsonaro também disse que Greenwald "talvez pegue uma cana aqui no Brasil", uma expressão coloquial que soa como uma ameaça. Glenn Greenwald e os repórteres do Intercept Brasil conduziram seu jornalismo com a máxima integridade, sempre pensando no interesse público, e por isso, gozam da total proteção da Constituição brasileira. O Intercept apoia e reafirma o direito de Glenn Greenwald, e de todos os jornalistas do Intercept Brasil, de fazer jornalismo sem qualquer intimidação oficial, muito menos deportação ou prisão.
Somos gratos pela solidariedade dos defensores da liberdade de imprensa de todo o mundo, já que as instituições democráticas brasileiras enfrentam esse profundo teste sob o atual governo, comandado por um autoritário que não vê nada de errado em ameaçar um jornalista por simplesmente exercer sua profissão.