Para agradar aos caminhoneiros e aos motoristas que clamam por uma licença para transgredir, o presidente Jair Bolsonaro encaminhou ao Congresso um projeto recheado de medidas populistas, que colocarão vidas em risco se não forem limadas por deputados e senadores. Entre elas, está o fim da multa para quem transportar crianças fora da cadeirinha. A justificativa da Casa Civil seria cômica se não fosse o potencial de produzir uma tragédia: a substituição da “sanção pecuniária” pela busca de de “um caráter mais educativo”.
Se todos os estudos provam que a cadeirinha presa ao cinto segurança salva vidas, por que regredir? Seria ótimo se os motoristas fossem suficientemente educados para não precisar de punição, mas está provado que foi a aplicação de multas que fez os brasileiros adotarem a cadeirinha, o cinto de segurança e outras medidas que protegem a vida no trânsito.
Integrante do Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, o médico Danilo Blank ficou alarmado. Sua primeira reação ao saber que a multa para quem não transporta crianças na cadeirinha será substituída por uma advertência por escrito foi de perplexidade.
— Quem está propondo essa sandice? — perguntou.
Atendendo à demanda dos caminhoneiros, Bolsonaro propôs outras medidas que aumentam a insegurança no trânsito e que podem ser traduzidas como licenças para transgredir. Primeiro, a restrição aos controladores de velocidade. Depois, a ampliação do número de pontos que o infrator pode acumular até perder a carteira, de 20 para 40.
Em meio a essas medidas de caráter duvidoso, os pontos positivos do pacote, como a ampliação do prazo de validade da carteira de habilitação, acabam sendo ofuscados.
O fim da exigência do exame toxicológico na renovação da carteira dos motoristas profissionais não tem efeito prático, segundo o psiquiatra Flávio Pechansky, um dos maiores estudiosos da relação entre drogas e trânsito. Pechansky defende a utilização do drogômetro nas blitze, para flagrar motoristas dirigindo sob efeito de drogas, mas não há sinais de que o presidente venha a concordar com essa inovação.