Sendo um homem "de exatas", o economista Abraham Weintraub deveria ter mais cuidado com os números que divulga para justificar suas decisões sobre futuros cortes no orçamento das universidades federais. Quando diz que com o que gasta com um aluno na universidade pública o governo pode colocar 10 crianças em uma creche, o ministro está espancando os números para que confessem, diante da torcida, uma falácia. Não é verdade que com os
R$ 30 mil, em média, que o MEC gasta com um estudante de curso superior seja possível colocar 10 crianças numa creche.
No vídeo que divulgou na quarta-feira o ministro diz textualmente e em linguagem coloquial:
— No programa de governo que elegeu o presidente Jair Bolsonaro, tava muito claro, tava explícito, que a nossa prioridade era a educação básica, a pré-escola. Agora criou-se uma polêmica enorme porque a gente tá apresentando o nosso plano de governo. O que nós tamos fazendo, o que nós tamos trazendo em questionamento, não é é interromper os cursos de graduação. Os recurso futuros vão ser direcionados para cursos de graduação ou para a pré-escola ou para a educação básica? Aqui eu trago uma informação pra você que vai pagar por tudo isso, você que é o pagador de imposto. Um aluno numa graduação custa R$ 30 mil por ano. Um aluno numa creche custa R$ 3 mil por ano. Para cada aluno de graduação que eu coloco na faculdade, eu poderia trazer 10 crianças para uma creche. Crianças que geralmente são mais humildes, mais pobres, mais carentes, e que, hoje, não têm creches para elas. O que você faria no meu lugar?
No lugar do ministro, qualquer pessoa responsável diria a verdade inteira sobre os números: com os R$ 30 mil anuais que gasta com cada aluno de um curso de graduação, o MEC pode ajudar os municípios a colocarem 5,39 crianças numa creche. Aos prefeitos cabe contribuir com mais ou menos duas vezes esse valor.
A prefeita de Novo Hamburgo, Fátima Daudt (PSDB), diz que o custo anual de um aluno de zero a três anos em creche de tempo integral em seu município é de R$ 17.149,44 por ano. O Fundeb contribui com R$ 5.558,05. O resto sai do orçamento da prefeitura.
Conforme tabela divulgada pelo MEC no final do ano passado, R$ 5.558,05 é o valor de referência para o Rio Grande do Sul. Em outros Estados, pode ser menor, mas em nenhum baixa de R$ 4 mil.
O custo mensal para a prefeitura de Novo Hamburgo manter uma criança em creche é de R$ 1.428,37 por mês. Porque a uma criança de zero a três anos não basta fornecer apenas monitores e professores de educação infantil. É preciso oferecer alimentação, higiene, recreação, segurança e tudo o mais que a lei exige e o bom senso recomenda.
— Temos 3.624 alunos de zero a três anos. Aos municípios cabe a obrigatoriedade de atender e cumprir todos os critérios, que são bastante onerosos. O recurso que chega pra nós é muito pequeno diante do custo total.
Em Porto Alegre, a mensalidade de uma escola infantil para turno integral fica em torno de R$ 2 mil por mês (R$ 1,5 mil por seis horas).
Na rede pública da Capital, o custo médio por aluno nas Escolas Municipais de Educação Infantil é de R$ 1.339,88. Para as creches comunitárias, a prefeitura repassa R$ 525.