Na última terça-feira (30), o ministro da educação Abraham Weintraub anunciou o corte de 30% do orçamento das universidades federais. Depois, justificou que o país precisa investir mais na Educação Básica, e menos no Ensino Superior. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade na manhã desta quinta-feira (2), a presidente-executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz afirmou que o Brasil tem um descaso histórico com a Educação básica e que por muito tempo o Ensino Superior foi privilegiado, mas disse que o corte de 30% nas universidades é uma medica equivocada.
— Na lógica da gestão pública a gente não pode ser irresponsável, jogar com as palavras uma fala populista e dizer "olha a gente não prioriza a Educação Básica, então agora a gente precisa fazer uma transferência de recursos do Ensino Superior para Educação Básica". Não é simplesmente reduzir custos, o que a gente precisa é melhorar a locação desses recursos, tanto no Ensino Superior, quanto na Educação Básica, então seria muito mais difícil, mas muito mais responsável e muito mais eficaz ter uma política de melhoria da gestão das universidades federais.
Priscila ressaltou ainda que no Brasil, apenas 20% dos jovens vão para o Ensino Superior e defendeu que é preciso uma política para a juventude, pois, segundo ela, a universidade é a grande oportunidade de romper o ciclo de pobreza de uma parcela enorme da juventude brasileira. Questionada pelo apresentado Daniel Scola sobres os riscos do corte, ela afirma que é enorme:
— É uma percentagem pequena dos jovens que conseguem ir para o Ensino Superior, a gente tem uma desalento muito grande no Ensino Médio. É impressionante que, mesmo no Enem, o aluno se inscreve, mas não vai fazer a prova porque ele não acredita que vai conseguir entrar na universidade.
Para a presidente-executiva do Todos pela Educação, mais do que fazer o corte, o MEC precisa fazer um cruzamento entre matriz econômica das regiões e a oferta dos cursos de Ensino Superior.
— A gente precisa ser realista. O mercado de trabalho é uma parte importante dessa equação, a gente não pode virar as costas, o que não significa acabar com os cursos de Filosofia e Sociologia, não tem nada a ver com isso, mas tem a ver com fazer uma oferta mais adequada para aqueles jovens que vivem naquela região.
Ainda sobre o mercado de trabalho, Priscila afirma que o Brasil precisa ter um Ensino Superior forte para enfrentar o "processo tecnológico de digitalização de inteligência artificial":
— Vai vir daqui poucos anos uma onda enorme que vai acabar com grande parte dos empregos e, se o Brasil não se preparar para isso, a gente vai ficar entre os últimos lugares do mundo em desenvolvimento social e econômico. Então não adianta dizer que tem que fazer um corte simplesmente, o que a gente precisa é melhorar toda essa matriz de Ensino Superior no Brasil.
A presidente do Todos pela Educação diz que o governo precisa definir padrões de qualidade e construir isso em conjunto com estados e municípios, além de ter políticas de apoio pra induzir os caminhos que se tem evidência de que devem ser seguidos hoje no Brasil:
— Por exemplo, o recurso do governo federal pro Ensino Médio tinha que ser direcionado pra ampliação da oferta do Ensino Médio em tempo integral, a gente sabe que os jovens precisam estar em uma escola de Ensino Médio em tempo integral.