Do ponto de vista numérico, as manifestações deste domingo (26 de maio) foram um sucesso. Milhares de pessoas saíram às ruas para defender o governo de Jair Bolsonaro, pedir reforma da Previdência e apoio ao pacote anticrime do ministro Sergio Moro, numa demonstração de força do bolsonarismo. Registre-se que foram manifestações pacíficas, sem nenhum incidente mais grave, até porque quem era contra ficou em casa, acompanhando pela TV ou pelas redes sociais.
Em meio às bandeiras do Brasil e aos cartazes em defesa das pautas do governo surgiram outros que em nada contribuem para a aprovação da reforma da Previdência e de outros projetos capazes de atrair investimentos, gerar empregos e fazer a economia voltar a crescer. Ataques ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ao Supremo Tribunal Federal e ao Congresso em nada contribuem para criar um ambiente favorável à substituição do discurso do caos por uma agenda de crescimento. Em Porto Alegre, chamava atenção o cartaz com a inscrição “STF e Congresso, quadrilhas de urubus de toga e canalhas de gravata, não deixam o presidente que elegemos pelo voto democrático governar!!”.
Bolsonaro, que pela manhã publicara nas redes sociais vídeos com ataques ao Congresso e ao Supremo, percebeu (ou foi alertado) que não teria nada a ganhar estimulando o conflito. À tarde, publicou em seu perfil no Twitter: “Há alguns dias atrás, fui claro ao dizer que quem estivesse pedindo o fechamento do Congresso ou STF hoje estaria na manifestação errada. A população mostrou isso. Sua grande maioria foi às ruas com pautas legítimas e democráticas, mas há quem ainda insista em distorcer os fatos.”
Uma hora depois, publicou outro post com uma foto de manifestantes, entre os quais uma mulher caminhando com a ajuda de um andador, e escreveu: “Presidente, Ministros, Senadores, Deputados, Governadores, Prefeitos, Vereadores, Juízes: VEJAM A NOSSA RESPONSABILIDADE”.
Manifestações como a deste domingo rendem imagens exuberantes, mas não são suficientes para garantir a aprovação dos projetos do governo sem alterações. Deve-se dar ao movimento a dimensão que ele tem, sem fantasiar com a ideia de que o Brasil foi às ruas. Quem se vestiu de verde e amarelo e desfilou enrolado na bandeira foram eleitores de Bolsonaro, em número muito inferior aos milhões que votaram nele ainda no primeiro turno. Aliados de 2018, como o Movimento Brasil Livre, não quiseram se associar às passeatas de 26 de maio.
Da mesma forma, os atos de 15 de maio, organizados a pretexto de defender a educação, reuniram pessoas que não votaram em Bolsonaro nem no primeiro nem no segundo turno.
Nenhum dos dois pode dizer que representa a maioria silenciosa.
ALIÁS: Faltaram os caminhoneiros nos atos deste domingo. A promessa feita nas redes sociais, de cercar Brasília e de encher a Avenida Paulista com caminhões sem a carroceria, não se confirmou.