Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro concentraram-se na tarde deste domingo (26) na Avenida Goethe, em Porto Alegre, para defender as propostas do governo e atacar os que estariam no caminho delas.
Concentrados junto ao Parque Moinhos de Vento, trajando verde e amarelo e enrolados em bandeiras do Brasil, defenderam causas como a reforma da Previdência e o pacote anticrime apresentado pelo ministro Sergio Moro. Os alvos de indignação foram o chamado centrão, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
A manifestação começou por volta das 15h, com bloqueio das duas pistas da Avenida Goethe. Os manifestantes ocuparam uma área com cerca de 100 metros de extensão, da Avenida Mostardeiro até quase a passarela para pedrestes sobre a Goethe. Entre as pessoas, no entanto, havia espaço suficiente para a presença de duas dezenas de vans e barraquinhas que vendiam churrasco, pipoca, entrevero, chope, cachorro-quente e outros quitutes.
Um faixa pendurada na lateral de em um dos caminhões de som resumia as principais pautas do dia. Sob a palavra de ordem "Reforma Já", listava quatro prioridades: "Previdência de Guedes", "Anticrime de Moro", "Coaf com Moro" e "Exigimos Lava Toga".
Enquanto os oradores se sucediam em discursos do alto dos caminhões de som, a turma da planície exibia painéis, cartazes e até mesmo dizeres em folhas de ofício. Uma faixa fazia a defesa do nióbio, "riqueza que só o Brasil possui e não é nossa", tema da predileção de Bolsonaro. Uma mulher que se identificou apenas como Ana, 70 anos, esbanjou sua criatividade em uma folha de cartolina. De um lado, anunciou: "Quem tirou o Coaf de Moro está marcado para a próxima eleição". Do outro, atacou Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF): "Gilmar, você é 100 vezes pior que a Dilma. Impeachment Já". O advogado Higidio Dassi, 60 anos, também ajudava a segurar uma faixa em que pedia o impeachment de dois ministros do STF, Mendes e Dias Toffoli.
— Nossa motivação é pressionar o Congresso para aprovar as reformas de que o Brasil precisa, começando pela da Previdência, e depois o pacote anticrime do Moro. Com essas duas medidas, eu acho que a gente embala. E os pedidos de impeachment do Mendes e do Toffoli estão no Congresso, têm de tramitar. O STF tem se juntado ao Centrão para manter o sistema — disse o advogado.
A professora aposentada Mirna Borella, 56 anos, levantava um cartaz em apoio ao presidente ("Em Bolsonaro nós confiamos. Reformas Já") e também apontava como adversários o centrão e o Supremo:
— O centrão está impedindo a votação das reformas. A gente esperava isso da esquerda, mas o centrão está pensando em seus próprios privilégios. Outra preocupação é que o STF está legislando. Queremos que fique no lugar dele — criticou.
Os discursos sobre os caminhões de som inflamavam os participantes:
— Centrão, tremei, porque o povo está na rua e não se calará mais — incitou uma oradora.
Em seu discurso, o manifestante Roberto Rachewsky fez uma referência que remetia ao racha no seio da direita brasileira, que em parte abandonou Bolsonaro e não concordou em participar dos atos deste domingo — o Movimento Brasil Livre (MBL), apoiante de Bolsonaro durante a campanha eleitoral e ausente da manifestação, chegou a ser alvo de uma vaia da multidão.
— Me disseram para não vir aqui, que só ia ter bolsonarista. Me disseram para não vir aqui, que só ia ter olavistas, seguidores de Olavo de Carvalho. Eu vim. E só vi brasileiros — afirmou Rachewsky.
Também participaram alguns parlamentares. Deputado federal pelo Novo e ídolo de parcelas da direita bolsonarista, Marcel van Hatten foi o mais aclamado. A cada afirmação sua, apoiando Paulo Guedes ou Sergio Moro, recebia uma ovação. As reações foram menos efusivas quando entrou em conflito com o clima dominante e defendeu o esforço feito pelo Congresso para aprovar as reformas. Outro momento em que houve certa divisão no público foi quando atacou o golpismo:
— Sei que todos que estão aqui não querem fechar o Congresso, não querem fechar o STF, não querem golpe — disse.
— Eu quero! Eu quero! Eu quero! — respondeu um homem pilchado, ecoando outras vozes radicais.
— Fora Rodrigo Maia! — atalhou outro manifestante.
Em seguido, ao microfone, um dos participantes começou a citar deputados gaúchos que teriam "votado contra o Brasil", ou seja, contra projetos do governo. Quando foi lido o nome de Maria do Rosário, do PT, a multidão explodiu em prolongados apupos, que até tiveram direito a bis. Nesta semana, a Justiça deu 15 dias para Bolsonaro pagar uma indenização de R$ 10 mil à parlamentar, por ter dito que não a estupraria por ela não merecer.
Além dos três caminhões de som junto à multidão, havia, um pouco mais distante, um caminhão pequeno sobre o qual manifestantes também discursavam. Ali, nem o PSL, partido do presidente, foi poupado.
— Agora o centrão está se unindo com alguns do PSL. Não somos mais aqueles cidadãos que achavam que estavam representados pelos nossos eleitos. O poder emana do povo. Vocês serão questionados no dia a dia sobre sobre por que vieram às ruas. É muito óbvio: digam que apoiam o nosso presidente e o nosso país. A direita vai tomar conta. O nosso presidente cumpre o que promete — discursou um manifestante do alto do caminhão menor, que ostentava uma faixa com os dizeres "Gravataí e Cachoeirinha com Bolsonaro".