Durou pouco a ilusão dos caminhoneiros de que o presidente Jair Bolsonaro conseguiria segurar o preço do diesel na marra. A ordem para suspender o aumento de 5,7% na quinta-feira passada não passou de um arroubo: o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, mostraram que não há espaço para voluntarismo quando se trata de política de preços para os combustíveis.
A precipitação do presidente fez a emenda ficar pior do que o soneto, porque vendeu aos caminhoneiros a ideia de que bastariam cochichos sobre a iminência de uma greve e o governo seguraria o preço do diesel. A reação do mercado financeiro, que acredita na conversão de Bolsonaro ao liberalismo, obrigou o “Posto Ipiranga” a ser didático com o presidente.
Antes de a Petrobras anunciar o aumento, o governo estendeu um colchão para amortecer o impacto. Quando anunciou o “pacote” para os caminhoneiros, estava na cara que preparava o anúncio do reajuste para alinhar o diesel ao preço internacional do petróleo.
O pacote não resolve o problema dos autônomos. Crédito, mesmo subsidiado, é empréstimo que ali adiante terá de ser pago. O dinheiro para as estradas é insuficiente e os pedágios pesarão cada vez mais na planilha de custos.
A bomba não foi desarmada, embora o risco de uma greve semelhante à que paralisou o país em 2018 tenha diminuído bastante, graças a pelo menos cinco fatores:
1. Não existe o componente político da eleição, que insuflou os caminhoneiros no ano passado e multiplicou os apelos por intervenção militar;
2. É improvável que as grandes transportadoras repitam o locaute;
3. Os ruralistas, que apoiaram a paralisação, tiraram o corpo fora;
4. Os líderes têm consciência de que parar agora compromete demais a economia e resulta em antipatia popular;
5. Os autônomos não reconhecem sindicatos e ainda têm uma ponta de esperança no governo.
Aliás
A tabela do frete negociada na greve de 2018 segue no terreno da ficção. Como há excesso de oferta, quem contrata faz o preço e o governo não tem como fiscalizar.