O afago do governo federal nos caminhoneiros, com medidas anunciadas nesta terça-feira (16), não foi recebido com muito entusiasmo pela categoria. Linha de crédito especial e investimento de R$ 2 bilhões para obras em rodovias estão entre os principais acenos para a classe.
Presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí, Carlos Alberto Litti Dahmer entende que as ações anunciadas pelo governo são "tímidas" e não atacam os principais problemas enfrentados pela categoria. Ele afirma que melhorias em rodovias atendem aos anseios da sociedade como um todo, não apenas aos dos caminhoneiros, e que a linha de crédito é uma boa sinalização, mas que precisa ser melhor esclarecida.
— O governo não resolve os problemas principais enfrentados pela categoria, como o valor mínimo do frete e uma política de preços melhor no diesel.
Em relação à possibilidade de uma nova greve, Litti Dahmer afirma que a falta de uma "resposta imediata" em relação aos problemas da categoria gera insatisfação e pode inflamar a mobilização.
— Essa resposta não está vindo e isso gera ansiedade, desconforto e insatisfação, que é a palavra certa para ser usada nesse momento. Da insatisfação, o que pode acontecer é essa preocupação do governo, que não quer que ocorra (uma nova greve).
Felipe Corneli, presidente da Associação dos Caminhoneiros de Soledade, afirma que não conseguiu acompanhar a íntegra do anúncio do governo, mas que as medidas vendidas não atacam as principais demandas da classe. Corneli entende que uma eventual nova linha de crédito só dá "mais corda para se enforcar", pois os caminhoneiros vão contrair mais dívidas e não ter o retorno financeiro para quitá-las.
— Não adianta você ter um caminhão novo e não se sustentar dele. O que nós precisamos é do preço mínimo do frete, que isso vigore.
Corneli disse que os caminhoneiros presentes em grupo de mensagens no qual é um dos integrantes não "viram muita vantagem" no anúncio do governo. Ele não acredita em greve nesse momento e entende que uma nova mobilização não vai resolver os problemas da categoria, mas sim ajustes que visem garantir alguns direitos, como o cumprimento da tabela do frete.
O presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos (Fecam-RS), André Costa, afirmou que as medidas de infraestrutura anunciadas pelo governo "são de sua obrigação e não atendem apenas ao caminhoneiro e sim a toda a sociedade". Costa também defendeu mais detalhes em relação às condições para acesso à linha de crédito. No entendimento dele, a medida nesse sentido teria de ser elaborada para renovação da frota composta por caminhoneiros autônomos, "com regras claras e juros justos".
Ouça entrevista do presidente da Fecam:
No resto do Brasil, insatisfação se repete
— Nada do que o ministro da Infraestrutura anunciou nos ajuda. É um avanço conseguir pegar dinheiro no BNDES a baixo custo? É. Mas hoje, mais da metade dos caminhoneiros está com o nome sujo no Serasa. Nós vamos conseguir pegar esse crédito? — questionou Wanderlei Dias, o Dedéco, de Curitiba (PR).
Dias diz que não representa toda a classe.
— Eu tenho os caminhoneiros que estão comigo. E faço parte de um grupo com outros amigos, que têm outros caminhoneiros com eles. Isso faz uma rede de mais de um milhão de caminhoneiros — disse.
Segundo ele, os motoristas não estão conseguindo pagar as parcelas dos caminhões e, por isso, estão com o nome sujo.
Daniel Dias, o Queixada, que faz parte do mesmo grupo de Dias, afirmou que há muitos motoristas que não aguentam pagar os financiamentos devido ao baixo valor pago dos fretes e preço alto do diesel.
— As agências estão lotadas de carro de gente que não conseguiu pagar. Não resolve sair liberando mais financiamento para quem já está endividado — afirma.
Ariovaldo Junior Almeida, diretor do Sindicato dos Caminhoneiros de Ourinhos, interior de São Paulo, chamou de "esmola" o crédito oferecido.
— É melhor do que nada, mas é esmola. Trinta mil reais não dá para 15 pneus. O caminhoneiro precisava de uma linha de crédito de R$ 200 mil — afirmou.
A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) afirmou que não irá se pronunciar sobre as medidas anunciadas pelo governo.