Na véspera dos 23 anos do Massacre dos Carajás — confronto que deixou 19 integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra mortos em 1996, no Pará — um grupo do MST no Rio Grande do Sul se reuniu com o governador Eduardo Leite nesta terça-feira (16) para discutir reivindicações a assentamentos no Estado. A agenda faz parte das atividades da Jornada Nacional de Luta pela Reforma Agrária.
Desde a transição, é a terceira vez que Leite se encontra com o MST, mas esta é a primeira reunião oficial de governo. O grupo disse ao governador que deseja dialogar com a sociedade a importância da Reforma Agrária. Embora esse tema esteja ligado diretamente ao governo federal, o grupo quer o apoio do Estado para fazer andar esses processos.
— Diálogo é das duas partes, senão seria monólogo. Eles também têm tido essa postura, seja o deputado, seja o movimento, temos tido um trato respeitoso e adequado, porque s gente foca no serviço, no fim das contas, que é o papel do Estado neste caso — declarou o governador.
Uma das demandas trazidas pelo MST é o pagamento de R$ 1 milhão, dinheiro do BNDES que, segundo o movimento, foi liberado e caiu direto no caixa único do Estado. Esse valor, conforme o MST, já foi gasto com despesas do governo, mas faz parte de um programa chamado Camponês. O objetivo deste programa é financiar a infraestrutura dos assentamentos no Rio Grande do Sul.
Além disso, o MST pediu intervenção política de Leite para o BNDES liberar outros R$ 12 milhões a projetos aprovados para esse mesmo programa. O governador pediu para que o secretário da Agricultura, Covatti Filho, organize uma reunião de trabalho com o MST para alinhar as informações e colocar em prática a atuação do governo.
— Independentemente das questões políticas que envolvem o movimento, há milhares de pessoas que fazem parte desta realidade em assentamentos, para as quais o Estado tem que olhar e promover políticas públicas. Não se trata de vinculação, participação ou convergência de visão política sobre o movimento ou a forma com que ele atua, mas respeito a uma realidade que nós temos de cidadãos gaúchos, ou que estão no Estado, para os quais precisamos dirigir nossa atenção de políticas públicas. Seja em apoio técnico, para que tenham condições de produzir, como em saúde, educação, envolvendo as crianças e jovens que estão nos assentamentos — afirmou Leite.
Outras pautas também foram discutidas, como a perfuração de poços artesianos e construção de redes de distribuição de água nos assentamentos, a ampliação de patrulhas agrícolas nos municípios, a implantação de programas para diversificar a produção de alimentos saudáveis, a viabilização da assistência técnica, a manutenção das escolas do campo e o assentamento das famílias acampadas.