Se o Supremo Tribunal Federal está com a imagem arranhada aos olhos da população é porque seus ministros deram causa nos últimos anos, seja pelo comportamento de alguns ministros nas sessões, seja por habeas corpus incompreensíveis, seja pelo excesso de corporativismo. Os erros não justificam o absurdo de se defender o fechamento da Corte, como têm feito pessoas sem compromisso com a democracia. Quem substituiria o Supremo no papel de julgar as demandas que envolvem a interpretação da Constituição ou que são levadas pelos outros poderes?
Que a atriz Regina Duarte pregue o fechamento do Supremo em seu perfil no Instagram por ignorância em relação ao papel de guardião da Constituição, já é grave. Dizer que “se acabar o STF, com certeza acaba a corrupção” indica que Regina, a “namoradinha do Brasil” nos anos 1970, transformou-se numa viúva do arbítrio.
Embora goste de dar palpites em política e já tenha sido garota-propaganda da candidatura de José Serra em 2002, Regina é apenas uma atriz. O que diz repercute mais do que declarações de cidadãos menos famosos porque as redes sociais têm obsessão por celebridades. Mais grave ainda é quando cidadãos com mandato, como o deputado Eduardo Bolsonaro, dizem que basta um jipe, um cabo e um soldado para fechar a mais alta Corte do país, incitando a população contra os ministros.
O assunto até andava esquecido, mas renasceu depois do julgamento da semana passada, em que por seis votos a cinco o STF decidiu que caixa 2, mesmo quando envolve delitos como corrupção, deve ser tratado pela Justiça Eleitoral. O Ministério Público reagiu dizendo que será o fim da Operação Lava-Jato, porque para escapar da Justiça Federal, corruptos flagrados com a mão na massa dirão que era simples caixa 2. A preocupação é legítima, porque os tribunais eleitorais não estão preparados para julgar crimes mais complexos, mas a conclusão é simplista, porque não basta o acusado dizer que é caixa 2: a investigação é que vai oferecer elementos para enquadrar o delito.
Depois da decisão, Eduardo Bolsonaro gravou um vídeo com críticas ao Supremo. Ao compartilhar o vídeo, o presidente Jair Bolsonaro assinou embaixo da crítica, fornecendo oxigênio aos seguidores que defendem o fim do Supremo e realimentando a corrente que prega a ampliação do número de ministros, como o então candidato do PSL chegou a cogitar em 2018, para poder indicar homens de sua confiança, já que os atuais foram escolhidos por Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
O governo emite sinais contraditórios: quando teve a oportunidade de propor a criminalização do caixa 2, no pacote elaborado pelo ministro Sergio Moro, o Planalto optou por mandar a proposta em separado, para não prejudicar a aprovação das outras propostas.