A não ser que haja uma improvável reviravolta de última hora, a Esplanada irá amanhecer nesta segunda-feira (18) com um ministro a menos. Após cinco dias perambulando como um cadáver insepulto pelo Planalto, Gustavo Bebianno será finalmente exonerado da Secretaria-Geral da Presidência. A primeira baixa do governo assusta não por ser prematura, mas pela forma atabalhoada como foi conduzida. Ao humilhar um ministro de Estado publicamente, governando por rede social e à mercê dos caprichos dos filhos, o presidente Jair Bolsonaro emula o que há de mais estranho na gestão de seu par norte-americano, Donald Trump.
Demitido pelo Twitter, o ex-chefe de gabinete da Casa Branca Reince Priebus dizia que Trump havia se cercado de “predadores naturais”, palpiteiros “que não eram obrigados a entregar nenhum produto de seu trabalho regularmente – um plano, um discurso, o esboço de uma estratégia, um orçamento, um cronograma diário e semanal. Eram intrusos que ficavam perambulando pela Casa Branca, um bando de criadores de caso.” Priebus se referia à família de Trump e ao polemista profissional Steve Bannon, este último amigão e fonte de inspiração de Eduardo Bolsonaro.
Por aqui não é diferente. Sem função formal no governo, a prole do presidente transita livremente pelo palácio, opinando até em reuniões ministeriais. Não há nenhuma novidade nessa influência e até então vinha sendo tolerada por quem tem a missão de fazer o governo andar, sobretudo pelos generais de quatro estrelas que assessoram Bolsonaro. O que ninguém esperava era que o presidente fosse enredar uma corda nos próprios pés, atraindo para o Planalto um problema que estava restrito ao PSL.
A demissão de Bebianno não estanca a crise. Pelo contrário, pode ampliá-la, caso ele resolva cair atirando. Aos 54 anos, é um dos tantos personagens controversos que ascenderam ao poder com o capitão reformado. Embora o advogado tenha presidido o PSL e chefiado a campanha, eles só se conheceram em 2017. Fã de Bolsonaro, ele agia como stalker, perseguindo o então pré-candidato em eventos pelo Rio de Janeiro. O primeiro encontro foi em um estúdio de fotografia. Bebianno sabia que Bolsonaro estaria lá e foi se apresentar, oferecendo-se como voluntário para a campanha.
Aos poucos, foi granjeando a confiança do capitão e o ciúme dos filhos. Ganhou um ministério esvaziado, mas tinha assento no Planalto – o único civil além de Onyx Lorenzoni, que lutou por sua permanência no cargo. Defenestrado ao primeiro espirro ético do governo, Bebianno é só ressentimento. Guardião de segredos da campanha eleitoral, o agora ex-ministro tem munição de sobra para um eventual revide. Num recado velado ao presidente, declarou que “não se dá tiro na nuca do seu próprio soldado”. Diz o jargão da caserna que chumbo trocado não dói, mas artilharia desse calibre costuma causar enormes feridas institucionais.
Aliás
A queda de Gustavo Bebianno representa uma derrota de Onyx Lorenzoni e da ala moderada que assessora o presidente, inclusive a que veste verde-oliva.