Pouco dado a entrevistas, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, semeou preocupação entre estudantes, professores, pais e gestores de universidades com as declarações dadas ao jornal Valor Econômico, na qual defendeu a ampliação dos cursos técnicos. Vélez disse que “as universidades devem ficar reservadas para uma elite intelectual, que não é a mesma elite econômica”.
A preocupação seria menor se viesse acompanhada de um compromisso com a qualificação da educação básica (por enquanto uma promessa vaga), para que alunos de escolas públicas possam disputar vagas nas universidades em igualdade de condições com os concorrentes de instituições privadas. Mas não. O ministro está jogando um balde de água fria na esperança de pais que sonham ver os filhos ascenderem na escala social pela educação.
A fala do ministro segue a mesma linha do que o presidente Jair Bolsonaro disse em agosto do ano passado, em entrevista à GloboNews. Bolsonaro comentou que os jovens brasileiros têm “tara” pelo diploma superior, e que seria melhor se muitos deles buscassem o ensino profissionalizante para atuar em funções como técnico em conserto de eletrodomésticos e mecânico de automóvel. Registre-se que, hoje, menos de 15% dos brasileiros chegam à universidade. A maioria absoluta sequer completa o Ensino Médio.
É verdade que o conceito de “universidade para todos” é uma utopia, mas a sugestão do ministro, assim como a declaração do presidente, praticamente condena os pobres a se conformarem com posições subalternas. Por que não cobrar de quem pode pagar e investir no financiamento estudantil, para que depois de formados os jovens de classes mais baixas paguem a universidade com seu trabalho?
O ministro diz que não faz sentido um advogado estudar anos para trabalhar como motorista de Uber. Sentido também não faz um engenheiro que já foi o melhor aluno da classe virar eletricista, motorista ou pintor de paredes por que é considerado velho para um emprego aos 50 anos. Por certo, nenhum jovem faz curso superior planejando ser motorista de aplicativo. É o desemprego que leva profissionais com ou sem diploma a buscarem alternativas na informalidade, para sobreviver ou para pagar os estudos.
Aliás
O ministro da Educação deveria se preocupar com a perda de jovens talentosos que que terminam o curso superior e vão embora do Brasil por falta de oportunidades.