Os eleitores brasileiros foram sábios ao deixar a escolha do presidente da República para o segundo turno, dando a oportunidade de um debate mais aprofundado sobre as propostas de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, em vez de dar um salto no escuro, sem rede de proteção. Com 13 candidatos e dois incidentes atípicos – o atentado contra Bolsonaro e a confirmação tardia de Haddad como substituto do ex-presidente Lula na chapa –, os dois foram os que menos participaram de debates, sabatinas e entrevistas.
O segundo turno é uma nova eleição, mas é indiscutível que Jair Bolsonaro larga com vantagem sólida.
Com planos de governo genéricos, pouco se sabe das propostas para a área econômica, a saúde, a educação e tantas outras essenciais para o cidadão definir seu voto.
O segundo turno é uma nova eleição, com tempos iguais na propaganda, mas é indiscutível que Bolsonaro larga com vantagem, já que esteve muito perto de vencer a eleição no primeiro turno. Fez 46,7% dos votos válidos e elegeu deputados e senadores identificados com seu discurso em todos os Estados.
Para ter alguma chance, Haddad precisa reduzir a rejeição ao PT, o que o obriga a se descolar de seu criador, o ex-presidente Lula, e mostrar que tem um mínimo de independência. Seus eleitores comemoraram a classificação para o segundo turno porque apostam na rejeição de Bolsonaro e na conquista de eleitores que não foram às urnas ou anularam o voto no primeiro turno.
A frustração dos eleitores de Bolsonaro com o segundo turno era previsível. O candidato, seus filhos e militantes passaram as últimas semanas vendendo a ideia de que o mito, como é chamado, venceria no primeiro turno. O candidato disse que não aceitaria qualquer outro resultado que não fosse a vitória. Embora todos os institutos tenham, sempre, indicado que a disputa ficaria para o segundo turno, seus aliados inundaram as redes sociais com pesquisas falsas, mostrando índices que iam de 60% a 90% nos Estados.
Em sua primeira manifestação depois de confirmado o segundo turno, Bolsonaro voltou a levantar suspeitas sobre as urnas, dizendo que, se não fosse o sistema eleitoral, teria sido proclamado presidente já no domingo.
O resultado obtido por Bolsonaro é extraordinário para um candidato que há 27 anos é deputado federal do baixo clero, disputou a eleição por um partido nanico (PSL), aliado a outro ainda menor (PRTB), com pouquíssimo tempo de rádio e TV e quase nenhum dinheiro do fundo eleitoral. A vitória de Bolsonaro é um atestado de força das redes sociais, impulsionada pelo cansaço dos eleitores com os políticos tradicionais, a violência e a corrupção. Bolsonaro incorporou o espírito do “contra tudo que está aí” e, mesmo sendo o mais rejeitado, chegou em primeiro com larga vantagem sobre Haddad.
Também é extraordinária a façanha de Haddad, que há dois anos perdeu em primeiro turno a reeleição para a prefeitura de São Paulo. Como “poste” de Lula, ele só foi confirmado candidato em 11 de setembro.