O resultado da primeira pesquisa do Ibope no segundo turno na eleição para governador sugere que a estratégia do MDB, de apostar todas as fichas na associação de José Ivo Sartori com Jair Bolsonaro, sem ressalvas às ideias indefensáveis do capitão, foi um tiro no pé.
Eduardo Leite acertou ao abrir o voto para Bolsonaro, usando o antipetismo como argumento, mas marcando suas diferenças em questões de gênero, direitos humanos e democracia. Porque não combina com o passado de Sartori o apoio irrestrito a um candidato que defende a tortura, nega a existência da ditadura que o MDB combateu e tem uma visão tortuosa do que sejam direitos humanos.
Os votos que estão em jogo no segundo turno são os dos eleitores de Jairo Jorge e Miguel Rossetto, em sua maioria críticos de Bolsonaro. Os dois, juntos, fizeram 1.721.926 votos. Quem optou no primeiro turno pelo concorrente do PSL já estava com Sartori e Leite, porque o partido não teve candidato a governador no Rio Grande do Sul.
Parte dos eleitores tende a votar branco ou nulo se, além de não ter seu candidato classificado, virem os dois concorrentes brigando para ver quem é mais bolsonarista. Leite foi pressionado pelo PP a declarar apoio irrestrito, sob ameaça de mudança de voto por figurões como o deputado Jerônimo Goergen, mas resistiu. Gravou um vídeo reafirmando o voto, mas sem exagerar na adesão. Ao contrário, expressou seu desconforto com o fato de Bolsonaro nunca ter se retratado das barbaridades que disse no passado.
Como o candidato à Presidência que terá o voto dos dois decidiu se manter neutro no Estado, a explicação para a vantagem de Leite está na conquista do maior número de eleitores dos outros concorrentes.
Por coincidência, o percentual de Leite e Sartori no Ibope (59% a 41% dos válidos) é exatamente o mesmo da pesquisa feita por esta época em 2014. A diferença é que, naquela, era Sartori quem ostentava 18 pontos de vantagem sobre Tarso Genro.
Nos votos totais, Leite tem 52% e Sartori, 36%. Nulos e brancos somam 8% e indecisos são apenas 4%.
Embora o cenário seja totalmente favorável ao tucano, a eleição não pode ser considerada ganha. Os próximos 10 dias serão de disputa intensa, com perspectiva de a campanha do MDB partir para a desqualificação do adversário, embora Sartori resista às sugestões para baixar o nível da disputa. Nos subterrâneos das redes sociais, o ataque já começou.