É a partir da desmoralização dos partidos que a democracia apresenta os primeiros sinais de moléstia, nos mostra a História. Das autocracias dos últimos cem anos no mundo, os ditadores eleitos ou não apresentavam-se como outsiders, não faziam parte da política tradicional e vendiam soluções fáceis.
Escrito pelos professores de Ciência Política de Harvard Steven Levitsky e Daniel Ziblatt o livro Como as Democracias Morrem sustenta que grande parte desses homens “ascendeu ao poder porque políticos do establishment negligenciaram os sinais de alerta e, ou bem lhes entregaram o poder, ou então lhes abriram a porta” para governar. A política estava enfraquecida.
No Brasil, até 2013, havia tolerância mútua, ou o entendimento de que os concorrentes aceitavam uns aos outros como rivais estabelecidos. Não havia um coro em massa para desmoralizar jornalistas. Desde 2015, os políticos tratam seus adversários como inimigos, negam a pertinência dos partidos, intimidam a imprensa livre e ameaçam rejeitar o resultado das eleições. Além disso, tentam enfraquecer as instituições, incluindo a Justiça, toleram ou encorajam a violência e negam a legitimidade de seus concorrentes.
É fundamental entender que essas diferenças, a polarização e o extremismo podem levar a democracia para a UTI. Portanto, cabe aos partidos ter coragem política para deslegitimar homens e mulheres com opiniões extremistas, mesmo eles tendo boa popularidade. “Eles [líderes políticos] devem estar dispostos a juntar-se com oponentes ideologicamente distantes, mas comprometidos com a ordem política democrática”, dizia o cientista político Juan Linz. Em tempos extraordinários, “a liderança partidária corajosa significa pôr a democracia e o país à frente e explicar claramente aos eleitores o que está em jogo”, escreveram Levitsky e Ziblatt.
Política não é sinônimo de corrupção. É com ela que a vida, na prática, melhora. Ademais, cabe aos eleitores entender a relevância da democracia em um país. Estar aberto a conspirações e a apelos autoritários coloca em xeque o menos pior regime político já criado no mundo.