A superexposição de Jair Bolsonaro nos veículos de comunicação e nas redes sociais, em consequência do atentado que sofreu na quinta-feira, deve se refletir nos resultados das próximas pesquisas, mas é exercício de futurologia sem base técnica tentar prever o que ocorrerá na eleição. Duas pesquisas, uma do Datafolha e outra do Ibope, pegarão o assunto no ápice. A do Datafolha, registrada no dia 4 de setembro, será realizada e divulgada na segunda-feira. A do Ibope, registrada no dia 5 de setembro, tem campo mais amplo. Começou na quarta-feira e vai até o dia 11, terça-feira, data da divulgação.
As pesquisas mais importantes para a definição de tendência serão as próximas, porque captarão os efeitos da mudança de rumo na campanha do próprio Bolsonaro, impedido de viajar pelo país e de participar de atos públicos, do comportamento dos adversários em relação a ele na propaganda eleitoral e da substituição do ex-presidente Lula por Fernando Haddad na chapa do PT.
Bolsonaro vinha sob ataque dos principais adversários, especialmente do tucano Geraldo Alckmin, que nas inserções de 30 segundos mostrou peças apontando os pontos fracos do candidato. Nas entrevistas, Alckmin tinha subido o tom e vinha definindo Bolsonaro como o pior entre todos os concorrentes.
A facada que quase matou o candidato fez os adversários colocarem o pé no freio. A primeira reação foi a prevista no protocolo da civilidade: todos expressaram repúdio ao ataque e solidariedade ao candidato, suspenderam as agendas de campanha no 7 de Setembro e regravaram programas. Usando o atentado como justificativa, Alckmin entrou na Justiça pedindo a troca das inserções em que atacava Bolsonaro. O TSE atendeu ao pedido e deferiu a substituição do mapa de mídia.
O desafio dos responsáveis pela propaganda é encontrar o tom adequado para um momento delicado da campanha, em que precisam poupar o principal adversário, em respeito ao seu estado de saúde, para não serem vistos pelos eleitores como insensíveis.
Não há precedente na história recente do Brasil de um candidato que tenha sido alvo de um ataque, para que se possa avaliar o impacto. A bolinha de papel que José Serra tentou transformar em atentado na eleição de 2010 revelou-se um factoide e não conta.
A maior comoção ocorreu em 2014, quando Eduardo Campos (PSB) morreu em um acidente de avião no dia 13 de agosto. Na última pesquisa antes de sua morte, Campos tinha 9% no Ibope. Na primeira em que Marina Silva apareceu como substituta, feita nos dias 14 e 15 de agosto, em meio ao funeral, chegou a 21%. Uma semana depois foi a 34% e empatou com Dilma Rousseff.
Como as pesquisas indicavam que Marina venceria a eleição, o PT abriu uma campanha sem trégua para desconstruir sua candidatura e conseguiu tirá-la do segundo turno. O resto da história é conhecido: Dilma disputou o segundo turno com Aécio Neves, ganhou por uma vantagem ínfima e foi afastada do cargo pelo impeachment antes de fechar um ano e meio do segundo mandato.