No domingo passado fiz 58 anos. Nunca escondi a idade, não será agora que tentarei disfarçar a passagem do tempo. Gosto de fazer aniversário porque tenho clareza de que só não envelhecem os que morrem jovens.
Passei a manhã semeando flores, que é meu jeito de dizer gracias a la vida, que me ha dado tanto. Trabalhei à tarde para acompanhar as convenções e não consegui agradecer todas as mensagens de carinho que chegaram por todos os lados. Digo agora, uma semana depois, o quanto sou grata à vida que me deu uma família solidária e unida. Sou grata à vida que me presenteou com tantos amigos, leitores e ouvintes em 36 anos de uma profissão fascinante. Sou grata à vida porque nunca me faltou trabalho nem energia para encarar os desafios.
Planto porque o contato com a terra é uma forma de jamais esquecer de onde venho. Porque é a forma simbólica de lembrar uma das primeiras lições que aprendi com meu pai: colhemos o que plantamos. Se as ervas daninhas nascem na horta ou no jardim, é preciso removê-las. Separar o joio do trigo exige critério e paciência. A vida na roça ensina mais do que qualquer livro de autoajuda.
Neste domingo, penso em podar a parreira, mas minha mãe me diz que não se poda na lua nova. Até 2014, nesta época de agosto eu ligava para conversar e perguntava:
— Pai, já posso podar a parreira?
Ele dizia sim ou não, levando em conta se havia previsão de geada e, certamente, se estávamos na fase certa da lua. Nos últimos quatro invernos, não posso perguntar no Dia dos Pais se é hora de podar a parreira ou de plantar o feijão. Tenho de imaginar o que meu pai me diria. Sinto falta de dizer Feliz Dia dos Pais, como sinto falta do telefonema no aniversário, do abraço no Natal, da ligação em um dia qualquer, só para dizer que estava com vontade de ouvir minha voz.
Gracias a la vida que me deu um pai de quem para sempre terei saudade.
Sem conhecer a palavra, meu pai era feminista. Ensinou às filhas tudo o que ensinou aos dois meninos. Trabalhando na roça da manhã à noite, criou as condições para que suas três meninas fossem independentes. Não se importou que o preço fosse a separação, para estudar em outra cidade, e a censura dos vizinhos que não viam outro futuro para as filhas mulheres fora de um "bom casamento". Meu pai sonhava com diplomas que nos livrassem de ganhar a vida no cabo da enxada.
Do primeiro inverno longe de casa lembro de uma única cena: a volta para casa nas férias de julho, às vésperas de completar 11 anos. Descemos do ônibus pelas 10h e andamos uns dois quilômetros a pé por uma estradinha coberta de geada. Eu voltava depois de quatro meses, cheia de saudade da mãe e dos quatro irmãos e chorava baixinho, torcendo para que ele não percebesse a emoção de pisar na terra que me viu nascer. Tinha aprendido naqueles meses a engolir o choro. Enxuguei as lágrimas na manga do casaco para entrar na casa de madeira aquecida pelo fogão a lenha, recebi o abraço da mãe e dos meus irmãos menores e comi o melhor pão com melado de que minha memória é capaz de lembrar.