Na Expointer, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, teve uma recepção nunca vista para um candidato à Presidência da República. Desde que pisou no Parque de Exposições Assis Brasil, acompanhado de um séquito de militantes e candidatos de sua coligação, foi saudade por produtores rurais, tratadores e visitantes da feira. No encontro na sede da Farsul, respondeu às demandas do agronegócio com um discurso sob medida para conquistar corações e mentes.
O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, que na véspera recebeu Geraldo Alckmin, considerou as respostas do tucano mais aprofundadas, mas reconheceu que Bolsonaro teve recepção mais calorosa, porque disse o que os produtores queriam ouvir:
– Nosso pessoal anda machucado com a relativização do direito de propriedade, que começou no governo Fernando Henrique e se aprofundou nas gestões do PT.
Traduzindo, os produtores não querem ouvir falar de restrições ambientais, cessão de terras para índios e quilombolas e invasões de propriedade pelo MST. Bolsonaro não faz concessões ao politicamente correto, defende sem ressalvas a tese de que “bandido bom é bandido morto” e promete revogar o Estatuto do Desarmamento. Embora a lei autorize os produtores rurais a comprarem armas, Gedeão diz que, na prática, a Polícia Federal restringe as licenças.
O candidato passou para o deputado Onyx Lorenzoni, definido como “futuro chefe da Casa Civil”, a tarefa de responder às perguntas para as quais não tinha formulação pronta.
Se na Farsul o foco eram os temas do campo, no primeiro compromisso, o almoço Brasil de Ideias, da revista Voto, as perguntas foram sobre temas amplos, mas o candidato deu respostas rasas e, em alguns casos, baseadas em notícias falsas. Foi o caso da abordagem sobre medidas para melhorar a qualidade da educação básica.
Bolsonaro voltou a dizer que o Ministério da Educação adotou o livro Aparelho Sexual e Companhia e que as escolas estariam dando lições de sexo a crianças pequenas. Contestou o desmentido do Ministério da Educação e exibiu uma página do livro, como se fosse adotado nas escolas públicas. Apontou problemas conhecidos, como as dificuldades dos alunos com matemática e interpretação de texto, mas não apresentou propostas concretas para melhorar a situação. Limitou-se a sugerir a entrada “de um lança chamas para expulsar Paulo Freire”, referindo-se ao educador falecido em 1997.
A diretora da revista Voto, Karim Miskulin, fez perguntas semelhantes às endereçadas a Geraldo Alckmin na segunda-feira. Indagado sobre o que fará, se for eleito, para ajudar o Rio Grande do Sul a resolver seus problemas, respondeu que a situação do Rio de Janeiro é mais grave, tangenciou a redução dos juros e passou a responsabilidade pela busca de alternativas para o economista Paulo Guedes, convidado para ser seu ministro da Fazenda.
– Não vou ser o Jairzinho paz e amor – respondeu ao ser perguntado sobre a dificuldade para formar maioria para governar em um país dividido.
Aliás
A falta de profundidade das propostas de Bolsonaro para a solução de problemas complexos não incomoda seus eleitores, seduzidos pela ideia de que o voluntarismo é mais importante do que um plano de governo consistente.