Colocado à disposição de Michel Temer pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, o Ministério do Trabalho pode, enfim, sair das mãos de petebistas. O desfecho foi dado após o afastamento de Helton Yomura durante a terceira fase da Operação Registro Espúrio, que também vasculhou gabinetes na Câmara dos Deputados. Assessores ligados a petebistas foram presos, já os detentores de foro privilegiado prestaram esclarecimentos às autoridades. No início da noite, Yomura pediu demissão ao presidente.
Por medo de perder o apoio da legenda, Temer não retirou a pasta do PTB quando o primeiro escândalo veio à tona envolvendo a deputada Cristiane Brasil – indicada para o ministério mesmo sendo condenada em ação trabalhista. No fim de maio, a primeira fase da Registro Espúrio, que investiga fraudes na concessão de registros sindicais, fez buscas em gabinetes na Câmara. Na segunda parte da operação, deflagrada em junho, Cristiane voltou ao foco das autoridades. Em seu relatório, a Polícia Federal informou que a deputada havia proibido Helton Yomura de nomear pessoas sem seu aval.
O ministro, na avaliação da PF, era um testa de ferro de Cristiane e Roberto Jefferson e tinha ciência do esquema para manipular a tramitação de registros sindicais, atendendo a demandas de políticos ligados ao PTB e ao Solidariedade. Cristiane e o ex-ministro, que não quis fornecer a senha de seu celular à polícia, continuaram a confabular mesmo após deflagrada a primeira fase da operação.
Segundo a investigação, o PTB havia construído uma forma de angariar propina de sindicalistas usando a Esplanada e o poder do ministério para conceder registro a entidades sindicais. A “disneylândia” do partido, porém, desmoronou. Depois da permissão dada nesta quinta-feira (5) por Jefferson, o presidente sentiu-se livre para afastar qualquer vínculo do PTB com o ministério. O chefe da Casa Civil do governo Temer, Eliseu Padilha, deve ser anunciado como interino da pasta.
A Polícia Federal dentro dos gabinetes parlamentares em Brasília e o afastamento de ministros já chocaram os brasileiros. Hoje, a descrença na política e o cansaço generalizado fizeram tornar banal esse tipo de acontecimento. Entre os correligionários dos investigados, o sentimento é de constrangimento. Integrantes do PTB no Rio Grande do Sul afirmaram que as irregularidades encontradas pela polícia constrangem o partido. Cauteloso, o deputado Sérgio Moraes afirmou que é necessário entender se as suspeitas levantadas pelas autoridades configuram crime. Para ele, se comprovadas as fraudes, é necessário punir os envolvidos.
O gaúcho Ronaldo Nogueira, antecessor de Yomura no Ministério do Trabalho, não foi localizado pela coluna para comentar a operação. Até o início da noite desta quinta-feira (5), os celulares do deputado e de seus assessores estavam desligados.
Aliás
Homem de confiança de Temer, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, por pouco escapou de buscas em sua residência durante a terceira fase da Registro Espúrio: foi salvo pela PGR, que negou ação da PF contra ele. A polícia diz que Marun “se vale de sua força política para solicitar concessões de registros de seu interesse”.