Em um cenário eleitoral ainda nebuloso, a condenação do ex-presidente Lula e sua iminente prisão depois da derrota no Supremo Tribunal Federal não produzem impacto apenas no PT.
Uma avaliação apressada pode levar a conclusões equivocadas sobre quem ganha e quem perde, direta ou indiretamente, com o impedimento de Lula de ser candidato a presidente em outubro.
Quem perde
O PT ignorou todos os sinais de que Lula seria condenado e que, enquadrado na Lei da Ficha Limpa, ficaria impedido de concorrer. Não preparou um plano B e impediu que o eventual substituto se credenciasse para disputar a simpatia da esquerda. A estratégia do partido é manter Lula como candidato até agosto e substituí-lo à última hora, quando o TSE negar o registro da candidatura.
O problema é que Lula já não tem o cacife do tempo em que se dizia capaz de eleger um poste. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, tido como o mais cotado para assumir o lugar de Lula na disputa, está engessado por essa estratégia, que impede o crescimento nas pesquisas.
2. Candidatos do PT
Com Lula preso, os candidatos do PT nos Estados perdem seu principal cabo eleitoral. Com o desgaste provocado pela Lava-Jato, a previsão já era de redução das bancadas estaduais e federal e de imensas dificuldades na eleição para o governo dos Estados e no Senado. Sem Lula, resta o discurso da vitimização, que funciona entre os militantes, mas não tem força para reconquistar segmentos que se afastaram do partido nos últimos anos.
Por aparecer em segundo lugar nas pesquisas, à primeira vista pode parecer que o deputado do PSL é o principal beneficiário da derrocada de Lula, mas não. Sem seu antípoda, Bolsonaro perde discurso.
Candidato de uma nota só — a segurança pública, com foco no armamento da população —, o capitão terá contra ele liberais como João Amoêdo (Novo) e Flávio Rocha (PRB), o centro representado por Henrique Meirelles (PMDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT) e a esquerda de Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PC do B).
No campo das novidades, a entrada do ex-ministro Joaquim Barbosa pode tirar de Bolsonaro os votos do eleitor desencantado com a política. Embora se apresente como uma opção fora da política, Bolsonaro é deputado federal há quase 28 anos. Barbosa nunca disputou eleição.
Quem ganha
1. Ciro Gomes
O pré-candidato do PDT é, hoje, o nome capaz de acolher os órfãos da candidatura de Lula que não se alinham com as opções mais à esquerda. Com estilo agressivo e experiência de disputa em eleições majoritárias, Ciro tem condições de se sobressair nos debates.
Considerada pelos petistas uma opção para vice de Lula quando foi lançada candidata a presidente pelo PC do B, a deputada gaúcha é uma fiel aliada dele, apesar de ter sido traída pelo PT quando disputou a prefeitura de Porto Alegre.
Com discurso e práticas de extrema esquerda, o candidato do PSOL pode crescer nos movimentos sociais, na esteira do vazio deixado por Lula e da radicalização da campanha. O problema de Ciro, Manuela e Boulos é que, se os três mantiverem as candidaturas, a esquerda dividida corre o risco de ficar fora do segundo turno.
O tucano que perdeu a eleição para Lula em 2006 ainda não conseguiu decolar nas pesquisas, mas pode — por mais que isso pareça paradoxal — conquistar eleitores da classe média conservadora que votaram no PT nas últimas eleições e buscam um candidato com experiência comprovada. Ter administrado o Estado de São Paulo, primeiro como herdeiro de Mario Covas e depois como governador eleito por três vezes, dá ao tucano material que os concorrentes não têm para mostrar na propaganda eleitoral.
5. Marina Silva
Poderia ser a principal herdeira dos votos de Lula, como as pesquisas mostravam em 2017, mas sua apatia, combinada com o desmantelamento da Rede, deixam dúvidas sobre qual é o projeto de Marina. Políticos que estão deixando a Rede levantam a hipótese de que ela não será candidata.