A decretação da prisão do ex-presidente Lula menos de 24 horas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter negado o habeas corpus preventivo surpreendeu líderes petistas e a própria defesa do ex-presidente, que pretendia apresentar um novo recurso para retardar a execução da pena de 12 anos e um mês de reclusão, inicialmente em regime fechado. Mal saiu o despacho do juiz Sergio Moro dando prazo até as 17h desta sexta-feira para Lula se apresentar à sede da Polícia Federal em Curitiba os líderes do PT começaram a preparar a resistência em São Bernardo do Campo e a organizar manifestações por todo o país.
"Diante da decisão do juiz parcial e arbitrário Sergio Moro, resistiremos! Todos para São Bernardo do Campo, no Sindicato dos Metalúrgicos", escreveu o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) no Twitter, às 18h43min.
"Todos para São Bernardo do Campo! É neste momento a trincheira de resistência democrática. Não assistiremos passivamente. Haverá resistência democrática", disse Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à Presidência em seu perfil no Twitter.
Mensagens idênticas estão sendo postadas por líderes do PT, do PC do B e do PSOL em todo o país. Por volta das 19h, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) divulgou nota convocando militantes para se dirigirem ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. "É necessário continuarmos resistindo, defendendo o maior líder político que este país já teve. Defender Lula é defender a democracia!", diz a nota.
Em Porto Alegre, o PT convocou os militantes a se concentrarem nesta sexta-feira, a partir das 18h, na Esquina Democrática. Em entrevista à Rádio Gaúcha, o presidente estadual do PT, Pepe Vargas, protestou contra a prisão de Lula, dizendo que foi um ato arbitrário de Moro e que ainda havia recursos pendentes que foram ignorados pelo juiz. Na interpretação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, os recursos se esgotaram com o julgamento dos embargos de declaração, no dia 26 de março. Lula só não foi preso antes porque estava protegido por um salvo conduto do Supremo Tribunal Federal, que perdeu a validade na noite de quarta-feira (4).
Ainda não se sabe se Lula vai se apresentar à Polícia Federal em Curitiba ou se resistirá em São Bernardo do Campo. O advogado José Roberto Batocchio disse à BandNews que o ex-presidente deve se apresentar à PF "por respeito à Justiça, mas não ao arbítrio". Líderes do PT afirmam que Lula não aceita se esconder, nem fugir, nem pedir asilo, mas que movimentos populares e sindicais querem contrariar a vontade dele e fazer resistência.
Entre os líderes do PT, a avaliação é de que Moro antecipou a decretação da prisão temendo que o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, concedesse liminar pedida pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, em nome do Partido Ecológico Nacional. Na ação, Kakay pede a suspensão da execução de penas para condenados em segunda instância até o julgamento do mérito da Ação Declaratória de Constitucionalidade que questiona a prisão antes do trânsito em julgado da sentença condenatória.