Aos 60 anos, a psicóloga Bárbara Neubarth entrou para a faculdade de Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS. Na quarta-feira, tive a alegria de participar da festa de formatura, que foi também uma celebração da vida. Entre o vestibular e a formatura, Bárbara ficou viúva. Viu a filha Gabriela se formar em Medicina e iniciar a residência em Psiquiatria. Porque hoje é Domingo de Páscoa, quero falar do trabalho dessa mulher extraordinária, capaz de encher de cores a vida cinzenta de pessoas que sofrem com problemas mentais.
Doutora em Educação pela UFRGS na linha de pesquisa Arte, Cultura, Educação e Psicanálise, Bárbara é funcionária concursada da Secretaria da Saúde desde 1980. Trabalha no Hospital Psiquiátrico São Pedro e lá coordena uma Oficina de Criatividade premiada no ano passado pelo Instituto Nacional do Patrimônio Histórico Nacional. O projeto Arquivo e Testemunho: Acervo da Oficina de Criatividade do Hospital Psiquiátrico São Pedro, que ganhou o prêmio Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, reúne mais de 200 mil trabalhos de centenas de pacientes que por lá passaram nos últimos 27 anos.
Conheço Bárbara há 30 anos. Já a vi trabalhando com os pacientes num daqueles casarões que no passado abrigaram milhares de "loucos". Por "loucos" entenda-se qualquer pessoa que a família internava por algum distúrbio mental e nunca mais ia buscar ou que a polícia recolhia na rua para não perturbar a ordem. Com voz suave e uma paciência infinita, chama seus artistas pelo nome, orienta, instiga e elogia o resultado. Já a encontrei no Museu de Arte do Rio de Janeiro, no ano passado, expondo trabalhos dos pacientes em uma mostra coletiva. Era de se ver o brilho nos olhos azuis de Bárbara diante de Natália Leite, 74 anos, uma das internas que viajou de avião pela primeira vez para participar da exposição Lugares do Delírio. Agora, na festa de formatura, soube pela Giselle Sanches, que acompanhou Natália na viagem, que, na volta do Rio, ela desenhou o Pão de Açúcar.
Uso a formatura como pretexto para falar da importância de pessoas como ela, que fazem a diferença no mundo. Bárbara e a equipe de psicólogas, assistentes sociais e estagiários de arte lutam contra a escassez, buscam parcerias, doações e ações entre amigos para comprar o material necessário ao trabalho e espalhar essa epidemia de cores que virou até filme.