Desde antes da chegada do ex-presidente Lula ao centro de Porto Alegre, o clima já era de comício, mas quem usou o termo pela primeira vez foi o senador Roberto Requião (PMDB-PR), para em seguida corrigir:
– O que estamos assistindo aqui não é um comício, mas um tribunal popular.
Do primeiro ao último discurso, intercalado pelo refrão “Olê, olá, Lulááá, Lulááá”, repetido pelos militantes, o tom foi o adotado nos palanques eleitorais, com variações de intensidade. Começou pelo ex-governador Olívio Dutra, mais contido, e subiu com Tarso Genro. que perguntou “o que o Lula fez para despertar tanto ódio da classe dominante?” e emendou:
– O único tribunal que pode julgar Lula é o do povo.
Líder do MST, João Pedro Stédile disse que era preciso identificar os inimigos. Atacou os bancos e as multinacionais do setor químico. Chamou o juiz Sergio Moro de “puxa-saco dos capitalistas americanos” e disse que ele é dirigido pela Globo.
Repetindo uma expressão já usada pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, Stedile disse que os movimentos sociais não permitirão que Lula seja preso.
A ex-presidente Dilma Rousseff repetiu o raciocínio exposto na recente entrevista a ZH: que “o impeachment foi o primeiro ato do golpe”. O segundo seriam as reformas do presidente Michel Temer e o terceiro, o impedimento de Lula ser candidato ao Planalto.
– O Brasil vai precisar de mulheres, mas agora precisa de um homem (Lula) para se reencontrar consigo mesmo – disse Dilma.
Voz rouca, semblante abatido, Lula começou dizendo que não falaria do processo, porque tem bons advogados e eles já provaram que é inocente. Usou a maior parte do tempo para falar das maravilhas de seus governos – dos investimentos em educação à política externa, passando pelo estímulo à indústria naval. Atacou a imprensa brasileira e recomendou a leitura do The New York Times, que ontem publicou artigo do economista Mark Weisbroth, dizendo que a democracia brasileira está sendo empurrada para o abismo.
Quase ao final, repetiu a declaração de honestidade:
– Duvido que neste país tenha um magistrado mais honesto do que eu.
Depois de anunciar que voltará em fevereiro, Lula encerrou com um dos seus bordões favoritos:
– Tenho 72 anos de idade, energia de 30 e tesão de 20 para lutar.