A saída do tucano Bruno Araújo do Ministério das Cidades deveria ter ocorrido em maio, quando estourou o escândalo das gravações de Joesley Batista. Afoito, o jovem deputado foi o primeiro a anunciar que deixaria o cargo, mas a turma do deixa disso o convenceu a ficar um pouco mais, para ver se baixava a fervura. Se saísse, deixaria em maus lençóis os companheiros que queriam ficar. Agora, com a porteira aberta, os outros devem seguir pelo mesmo caminho, para tentar se descolar do governo de Michel Temer na próxima eleição.
O desembarque vem sendo preparado nas últimas semanas, e ninguém pode dizer que tenha sido surpreendido com a saída de Araújo. O ministério dele é um dos mais cobiçados da Esplanada, pelo orçamento e pela capacidade de retorno eleitoral. Diante do sai não sai do PSDB, os aliados de Temer fizeram chegar aos tucanos o recado clássico de que a porta da rua é a serventia da casa.
Há 10 dias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu um artigo alertando para o risco de “peemedebização do PSDB”, se continuasse agarrado aos cargos, recomendou que os tucanos saíssem do governo, mas continuassem apoiando as reformas que o partido defende por convicção.
Consumada a saída, fica a pergunta: com que discurso o PSDB se apresentará na eleição presidencial de 2018 e nas disputas estaduais? Sob o comando de Aécio Neves, que nunca se conformou com a derrota para o PT, o PSDB sacudiu a árvore e foi um dos protagonistas da derrubada de Dilma Rousseff. Embarcou no governo Temer em seguida e, para o bem ou para o mal, deixou suas digitais nestes 18 meses.
Na campanha, o candidato do PSDB vai fazer oposição ao representante da situação? Ou vai tentar seguir a Lei Ricupero e colher os dividendos do que deu certo, como a queda da inflação, a redução da taxa de juros e a retomada do crescimento econômico, e fingir que não tem nada a ver com o que deu errado? Com o país radicalizado como está, haverá algum espaço para o meio termo ou para o bom senso? Se Geraldo Alckmin for o candidato, não se espere discursos raivosos como os de Aécio e de José Serra. Não é da natureza dele fazer do ataque o eixo central da campanha.
Aliás
O tom da carta de demissão de Bruno Araújo é de quem saiu contrariado. No texto, ele diz que pede exoneração porque não tem apoio suficiente no PSDB para continuar.