Defensora pública aposentada, Maria de Fátima Záchia Paludo cansou de “dar murro em ponta de faca”, foi ao Paço Municipal nesta segunda-feira (30) pela manhã e pediu demissão do cargo de secretária municipal de Desenvolvimento Social e Esporte ao prefeito Nelson Marchezan. Para formalizar a exoneração, uma carta de apenas cinco linhas foi ditada pela secretária, na própria prefeitura, com texto que não fala das razões da saída.
À tarde, antes mesmo de a secretária confirmar a saída, uma cópia da carta já circulava em grupos de WhatsApp e o Sindicato dos Municipários anunciava a demissão. A carta lacônica termina com um “agradeço a oportunidade e a confiança”. Maria de Fátima optou por não tornar públicos os motivos de sua saída. Disse ao prefeito que não daria entrevistas, mas a pessoas de sua confiança contou que não aguentava mais os entraves burocráticos.
– As coisas também não andam porque falta uma política pública de assistência social – comentou com assessores.
Aos diretores da secretaria, pediu que levantassem todos os assuntos pendentes e fizessem atas. Disse que não estava saindo por divergências com a equipe nem por ameaças, como ocorreu com o ex-presidente da Fasc, Solimar Amaro. Garantiu que construiu uma boa relação com os movimentos sociais e que, se tivesse recebido alguma ameaça de morte, não se intimidaria.
Nessas conversas, revelou que a gota d’água para a saída foi o projeto de revitalização do Centro Histórico, que incluía a retirada de moradores de rua “com uma abordagem humanizada”. Estava combinado com outras secretarias de começar pelo Viaduto Otávio Rocha. A operação seria no feriado de 2 de novembro. Uma assessora avisou que o prefeito mandara suspender tudo, porque ele queria um projeto mais abrangente.
– Diga que não vou suspender – respondeu a secretária.
Sem conseguir uma audiência para discutir o caso com Marchezan e explicar sua ideia de fazer a revitalização “por partes”, Maria de Fátima concluiu que seu prazo de validade na prefeitura tinha expirado antes de tirar do papel o projeto de regularização fundiária que se dispôs a tocar quando aceitou a missão.
Marchezan minimiza saída
De São Paulo, onde teve encontro com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o prefeito Nelson Marchezan definiu a saída da secretária Maria de Fátima Paludo como “resultado de uma sequência de frustrações” com a máquina pública.
Marchezan disse que não houve atrito, mas confirmou ter pedido para analisar melhor o projeto de retirada das pessoas que moram embaixo do Viaduto Otávio Rocha:
– Por se tratar de um tema muito delicado, pedi que me apresentasse uma proposta estruturada para toda a cidade e não para apenas este ou aquele ponto.
Aliás
Desde o início do governo, Nelson Marchezan perdeu cinco secretários, além de dirigentes de órgãos como Carris, Dmlu, Dmae, Fasc e Procempa.