A "reforma política" que o Congresso aprovou no limite do prazo possível para vigorar na eleição de 2018 não passa de uma colcha de retalhos para disfarçar o único ponto que realmente interessa aos futuros candidatos: o fundo público para financiar as campanhas eleitorais. Estimado em R$ 1,7 bilhão, o fundo é a salvação da lavoura diante da proibição de doações empresariais e do cerco do Ministério Público e da Polícia Federal ao caixa 2 e ao pagamento de propina.
Às pressas, os senadores derrubaram o limite para o autofinanciamento, o que significa que o poder econômico terá ainda mais influência na eleição. O senso comum pode achar que é ótimo um candidato milionário gastar os tubos na campanha eleitoral, que afinal o dinheiro é dele. A questão é: quem defenderá os interesses da maioria da população, se os parlamentos forem compostos apenas de ricaços que usam a política para ficar ainda mais ricos? A Câmara e o Senado estão repletos de milionários, alguns donos de fortunas de origem duvidosa. Esses poderão investir quanto quiserem para garantir a própria eleição.
De positivo, os candidatos também poderão receber doações de pessoas físicas e obter recursos fazendo "vaquinha eletrônica", o que ajuda quem tem maior capacidade de mobilização por suas ideias. Há pontos obscuros no projeto, como a permissão para partidos e candidatos promoverem eventos e venderem bens e serviços para arrecadar fundos para a campanha. Abre-se nesse ponto um universo de possibilidades para o drible, dificultando a fiscalização pela Justiça Eleitoral.
A polêmica da última hora é a que trata da campanha na internet e prevê que aplicativos e redes sociais serão obrigados a suspender uma publicação quando houver denúncia de informação falsa ou discurso de ódio até que o autor seja identificado. Caso o usuário seja real, a postagem ficará liberada.
Combater os zumbis que se escondem atrás de um pseudônimo para disseminar o ódio ou difamar adversários deveria ser interesse de todos os partidos e candidatos. O problema é a eficácia da medida, já que a denúncia não passa por um juiz. Existe, ainda, o risco de se abrir uma brecha para a censura, sem garantia de que os verdadeiros predadores da internet sejam banidos da campanha virtual.