A única dúvida era se o placar seria muito diferente da votação anterior, quando a Comissão de Constituição e Justiça rejeitou a denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva por 41 votos da 24. Deu um pouquinho menos na segunda (39 a 26), por obstrução da Justiça e organização criminosa. A palavra final será do plenário, que deverá livrar Temer e os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco de um processo no Supremo Tribunal Federal.
O mérito, para os aliados do governo, é secundário. Temer vai escapar pela segunda vez porque tem o que Dilma Rousseff não tinha para evitar o impeachment: maioria sólida no Congresso. Em matéria de impopularidade, os índices de Temer são ainda piores do que os de Dilma às vésperas da queda. O que pesa objetivamente contar ele é mais grave do que as pedaladas fiscais que deram embasamento jurídico para o impeachment. Relembrando, Dilma foi afastada do mandato em um processo político. Temer é alvo de uma denúncia criminal, calcada em delações premiadas que revelaram relações perigosas com o empresário Joesley Batista e com o doleiro Lucio Funaro, operador financeiro do PMDB.
O que pesa contra Temer e seus ministros é grave. Quem não sofre de amnésia recente lembra da visita de Joesley ao Jaburu na calada da noite, da indicação de Rodrigo Rocha Loures como seu interlocutor na discussão das demandas da JBS e da mala com R$ 500 mil entregue ao amigo do presidente dias depois e só devolvida quando estourou o escândalo.
A defesa de Temer construiu uma narrativa em que tudo não passa de conspiração urdida pelo procurador Rodrigo Janot e passou com o trator sobre tudo o que compromete o presidente e os ministros denunciados. Só faltou os aliados dizerem que, para incriminar Temer, Janot plantou R$ 51 milhões em um apartamento cedido ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, no qual foram encontradas as digitais de seu irmão, o deputado Lucio Vieira Lima.
A tática de Temer é a mesma de Aécio Neves, que reassumiu o mandato no Senado nesta quarta-feira (18) com um discurso choroso de que que foi “vítima de uma ardilosa armação” do mesmo Janot. Sobre os R$ 2 milhões que pediu e recebeu de Joesley, nem uma palavra.
Os últimos dois dias em Brasília são a prova cabal de que, na política brasileira, quem tem aliados tem tudo. Aécio e Temer estão blindados.