O assédio ao deputado Jerônimo Goergen (PP) para votar a favor do presidente Michel Temer ilustra os métodos utilizados pelo Palácio do Planalto para cooptar parlamentares. Integrante de um partido da base, Goergen se declara independente e avisa que vai votar pelo prosseguimento da denúncia, mesmo sabendo que isso poderá lhe custar a reeleição, já que os concorrentes estão recebendo mais recursos federais para suas bases eleitorais."Me ajuda que eu te ajudo", pediu o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, companheiro de partido e de militância no movimento ruralista, em mensagem pelo WhatsApp.
O deputado não se comoveu com a promessa de ajuda e avisou que não vai mudar de ideia por pressão do governo:
— As ameaças não me intimidam. Não me considero base. Sou independente e seguirei coerente, ajudando no que for bom e cobrando o que não for.
Nesta quarta-feira (25), às 9h32min, enquanto falava com a Rádio Gaúcha no Salão Verde da Câmara, Goergen recebeu no grupo de WhatsApp da bancada uma mensagem do deputado Darcísio Perondi (PMDB, um dos mais convictos defensores de Temer): "JERÔNIMO! Pega mais leve". Dois minutos depois, o deputado respondeu: "Perondi c todo respeito cada um cuida do seu mandato e eu cuido de acordo com o que meus eleitores pedem". Giovani Cherini (PR) entrou na conversa para acrescentar uma reflexão bíblica: "Dizia Jesus 'quem não for pecador atire a primeira pedra'.
Além da preferência na liberação das emendas, os deputados aliados estão sendo contemplados com cargos em estatais e com recursos dos ministérios para demandas de suas regiões. Goergen teme perder o apoio de prefeitos e vereadores, mas avalia que entrar no jogo seria trair seus eleitores. O deputado foi investigado na Lava-Jato, teve a vida virada do avesso pelo Ministério Público e pela Polícia Federal, mas a denúncia foi arquivada no início de setembro.
— Vivi um inferno, mas provei minha inocência — diz.
Autor de um projeto para acabar com as emendas parlamentares, Goergen não encontra apoio dos seus pares para aprovar a mudança. Agora, está animado porque recebeu da Confederação Nacional dos Municípios a promessa de ajuda para mudar a lei.
— Depois de cinco anos de trabalho, já tenho quase todas as assinaturas para protocolar a Proposta de Emenda Constitucional — anima-se.
A justificativa para a mudança na forma de repasse para os municípios cabe em uma frase:
— Emenda compra apoio.