Na quarta-feira, quase três meses depois de arquivada a denúncia por corrupção passiva, os deputados voltarão aos microfones da Câmara para votar o segundo pedido de investigação contra o presidente Michel Temer. Assim como ocorreu da última vez, quando a polêmica centrava-se na liberação desatinada de emendas e recursos aos parlamentares, a contrapartida para a rejeição da denúncia será respaldada pela máquina pública, da qual o peemedebista tem total controle.
Não foi Temer o primeiro a se valer da caneta para conseguir apoio no Congresso, mas foi o primeiro presidente no exercício do mandato a ser denunciado por crime comum – e usar a chave do cofre para tentar se livrar de inquérito. Pesa contra o peemedebista também, sua rejeição. Segundo pesquisa CNI-Ibope, apenas 3% dos brasileiros o aprovam.
Desta vez, para derrubar a segunda denúncia, especula-se que a moeda de troca foi o decreto que estabelece novas regras para a caracterização de trabalho análogo ao escravo. A atitude trouxe desgaste ao Palácio do Planalto, aos deputados da bancada ruralista e ao ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira. Ninguém assumiu a ideia e todos evitam defender o decreto em público. O ministro gaúcho, que foi eleito deputado em 2014, se prepara para a disputar a reeleição.
A Presidência admite que cogita rever alguns pontos da norma, mas qualquer alteração só será feita depois da sessão do dia 25 de outubro.
Outro canetaço sob medida para os apoiadores de Temer foi a decisão de dar 60% de desconto em multas ambientais. O perdão será dado quando o infrator optar por converter essas multas em serviços ambientais. O presidente foi até o Mato Grosso do Sul no sábado para assinar esse novo decreto.
Embora parlamentares, principalmente do baixo clero, continuem estipulando preços altos para que a denúncia seja rejeitada, oposição e governistas têm a certeza de que o presidente escapará de mais um pedido de investigação, graças aos recursos abundantes e atribuições do governo federal. O day after está sendo cuidadosamente planejado e, desta vez, tem até slogan: “agora é avançar”.
Aliás
O presidente Michel Temer disse ao site Poder 360 que está tomando aspirina infantil para “fluir melhor o sangue”. Temer está com 55% da artéria coronária obstruída. Se chegar a 65%, deverá fazer um cateterismo.