O quadro de agravamento da situação financeira da prefeitura, pintado na manhã desta quinta-feira pelo prefeito Nelson Marchezan, pode ser pior do que indicavam as previsões mais pessimistas. Uma semana antes da data prevista para o pagamento dos salários, o secretário da Fazenda, Leonardo Busatto, calcula que no final do mês estarão faltando R$ 101 milhões para pagar as contas. Se esse número se confirmar, os servidores receberão na próxima sexta-feira somente R$ 1,3 mil. No final de agosto, o primeiro depósito foi de R$ 3 mil. Com R$ 1,3 mil, a prefeitura quitaria no primeiro dia os salários de apenas 18% dos servidores.
Como se explica uma queda tão vertiginosa? Busatto responde mostrando uma tabela com o fluxo de caixa da prefeitura:
— Em julho, faltaram R$ 20 milhões. Como restaram contas a pagar no mês seguinte, o rombo aumentou para R$ 58 milhões. Neste mês, devemos fechar com R$ 101 milhões a menos, já que a receita será menor.
Pelo fluxo de caixa desenhado até o final do ano, a cada mês faltará um pouco mais de dinheiro. Serão R$ 57 milhões em outubro, R$ 240 milhões em novembro e R$ 267 milhões em dezembro. Isso significa que a prefeitura terá de procurar uma fonte adicional de receita para pagar a folha e o 13º salário.
Para reverter essa previsão catastrófica, o secretário da Fazenda trabalha com três possibilidades:
1. Aprovação da nova planta de valores do IPTU, que deverá produzir um acréscimo de R$ 70 milhões na arrecadação. Como parte dos proprietários de imóveis antecipa o pagamento, Busatto imagina que seria possível contar com pelo menos mais R$ 30 milhões até 31 de dezembro.
2. Devolução de parte do orçamento da Câmara de Vereadores. Em 2016, a Câmara repassou R$ 22 milhões não gastos à prefeitura.
3. Venda da folha de pagamento. Embora tenha sido vendida em 2014, por R$ 101 milhões para a Caixa Econômica Federal, a prefeitura estuda a possibilidade de fazer uma nova licitação e pagar a multa rescisória pelos dois anos que ainda restam do contrato. O problema é que existe o risco de a licitação dar deserta, já que será estabelecido um preço mínimo elevado para cobrir a multa e injetar um valor significativo no caixa.
Busatto tem sido questionado pelo Sindicato dos Municipais sobre por que a prefeitura não usa recursos do caixa único ou do Dmae para pagar os salários.
— É uma questão de princípio do prefeito. Se gastar o que não tem, em pouco tempo a prefeitura estará na mesma situação do Estado. É o famoso eu sou você amanhã — responde Busatto, lembrando o chamado Efeito Orloff.