A declaração do prefeito Nelson Marchezan ao programa Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (21), quando falou sobre a venda da Carris e citou furto de peças de ônibus entre os problemas da empresa, causou revolta em servidores. Ainda durante o programa, funcionários enviaram mensagens à rádio reclamando de "generalização" e "perseguição" à companhia de ônibus.
Vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários de Porto Alegre e motorista da Carris, Sandro Abade entendeu as afirmações do prefeito como uma provocação direta aos trabalhadores:
– O prefeito não pode chamar o trabalhador de ladrão e não fazer nada sobre isso. Se ele tem certeza que o trabalhador roubou, ele deve tomar as medidas cabíveis. A Carris é da prefeitura. Ele está chamando as pessoas que trabalham para ele e ajudaram a elegê-lo de ladrões – protesta.
Abade afirma que, durante a campanha, Marchezan prometeu portas abertas para conversas entre trabalhadores e Carris, mas que, desde o início da gestão, nenhuma conversa foi realizada:
– Ele disse que ia haver uma abertura tranquila entre trabalhadores, prefeitura e diretoria da Carris, e essa foi a primeira porta que se fechou. Os trabalhadores tem todo interesse em ajudar a encontrar um caminho e, juntos, retomarmos o crescimento da empresa. Nós sempre tentamos negociar e conversar com a prefeitura, mas não conseguimos. Agora, estamos conversando com a categoria para ver que medidas podem ser tomadas depois desta afirmação.
Na entrevista, Marchezan afirmou que a Carris dá prejuízo anual entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões à prefeitura. A crise financeira enfrentada pela empresa, segundo o prefeito, pode resultar na venda.
– Precisamos propor uma solução para a Carris, que pode ser venda, privatização, fechamento. Ainda não buscamos as melhores alternativas, pois é um processo que tem muitas opções, e cada uma delas com muitos reflexos – afirmou Marchezan.
O vice-presidente do sindicato afirma que os trabalhadores querem ajudar a empresa "a voltar ao que era antes", e sugeriu que as soluções sejam buscadas em conjunto.
– Se o prefeito diz que a Carris vai quebrar ou privatizar, porque ele não tenta compartilhar com os trabalhadores as necessidades da empresa antes de chegar a este ponto, para tentarmos achar junto com a prefeitura uma saída para a Carris se reerguer? – questionou o vice-presidente do Sindicato dos Rodoviários.
O sindicato também questiona a privatização da Carris, afirmando que não há investimentos e que ônibus permanecem parados por falta de manutenção.
— Para nenhum empresário é atrativo pegar uma empresa como a Carris, que atende a diversas regiões da cidade e tem um número grande de linhas de ônibus. A Carris só pode ser privatizada para quem não entende nada de transporte público — finalizou Abade.
A reportagem questionou a Carris sobre quantos furtos ocorreram dentro da empresa, mas ainda não obteve retorno.
O que diz a Carris
"Em relação às manifestações públicas de falta de diálogo com os rodoviários, a Carris reafirma que vem mantendo interlocução com o sindicato da categoria. Somente na semana passada, foram realizados dois encontros, na sede da Companhia, nos dias 13 e 15, com duração de aproximadamente duas horas cada, contando com a presença do presidente, do vice-presidente e de um representante da diretoria da entidade representativa.
Os mesmos dados sobre a grave situação financeira que foram abordados com o prefeito têm sido apresentados com transparência aos representantes dos rodoviários bem como à equipe de gestores da Companhia. A situação das contas da Carris vem piorando desde 2011. Só em 2016, o prejuízo somou R$ 55 milhões.
No encontro do dia 15 foi mencionado que, neste momento, qualquer interrupção do serviço, além de representar prejuízo à população, implicará em menos ingressos de recursos, agravando ainda mais a situação financeira da Carris."