Perdido no meio da proposta de revisão da planta de valores do IPTU de Porto Alegre há um ponto ainda pouco divulgado que merece um bom debate: a isenção dada historicamente a associações esportivas e recreativas sem fins lucrativos. Nessa situação estão os clubes sociais e os de futebol. A renúncia fiscal é estimada pelo prefeito Nelson Marchezan em R$ 14 milhões por ano.
O debate é necessário porque o projeto mexe com a vida de proprietários e inquilinos de imóveis, residenciais ou não. Sim, o IPTU é um imposto pago pelo proprietário, mas quem aluga um imóvel sabe que a conta é repassada ao inquilino. Por que alguém deve pagar um imposto maior sobre a propriedade de uma casa ou apartamento e Grêmio, Inter e outros clubes continuarem isentos? Pelos cálculos da prefeitura, só o que a dupla Gre-Nal deixa de pagar chegar a R$ 1,5 milhão.
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Marchezan está sendo corajoso ao propor esse debate com a revisão da planta, que não é atualizada há 26 anos. O que Grêmio e Inter deixam de pagar de IPTU em um ano é muito menos do que pagam por um jogador de nível médio (os de ponta podem chegar a R$ 500 mil por mês). Os torcedores pagam ingressos caros (ou mensalidades) e os clubes criam demandas por serviços públicos. Como defender a isenção?
Qual é a justificativa para que clubes sociais frequentados por quem está no topo do topo da pirâmide não precisem pagar IPTU? Os defensores da manutenção da isenção dizem que, se a prefeitura cobrar, os poucos clubes sociais remanescentes vão quebrar. Será mesmo? Esses clubes cobram mensalidades de seus associados e alugam seus espaços para festas. Por que a população que não tem acesso a eles deveria subsidiar sua existência?
Marchezan, que contrariou a opinião de seus aliados e até de financiadores da campanha ao propor o fim dessas isenções, diz que o dever da prefeitura é oferecer espaços públicos para o lazer dos porto-alegrenses. Quem quer jogar golfe (ou vôlei, basquete, peteca) em espaço privado tem de bancar o respectivo imposto. O prefeito não desconhece o valor dos clubes na formação de atletas, mas diz que existem outras leis de incentivo ao esporte que podem ser usadas para tanto.